Qual menina não teve uma Barbie na infância? Não brincou com a boneca por horas? Não quis ser uma Barbie? A mulher loira, magra, branca, de olhos azuis… A verdade é que ninguém se identifica com o padrão Barbie, que arranhou a autoestima e a imagem corporal de meninas por décadas.
Com o passar dos anos a Barbie começou a ser questionada como fonte de pressão social para as meninas. Criticada duramente por fortalecer os padrões de gênero e beleza em 2016 a Mattel passa a fabricar bonecas de diferentes etnias, formas corporais, cores de olho, pele e cabelo, além de incluir na produção Barbies com diversas profissões.
A Barbie, que por muito tempo foi associada apenas a um padrão inatingível, se torna um símbolo de diversidade e emancipação.
Muito além de seu lado nostálgico, o fenômeno do filme da Barbie traz reflexões importantes sobre a sociedade, em especial acerca da desigualdade de gênero. Não, não é um filme para crianças.
Na chamada Barbieland as Barbies comandam, temos a Barbie presidente, médica, aviadora, astronauta e qualquer profissão que passar por sua cabeça, e os vários Kens não tem qualquer papel relevante, o que levou alguns a chamarem o filme de “anti-homem”, o que sinceramente não faz sentido.
A chamada “Barbie estereotipada” se vê na necessidade de vir ao mundo real, e é quando temos um choque de realidade, não por vermos algo diferente do que vemos no dia a dia, mas sim por nos darmos conta de que normalizamos situações como mulheres expostas a violência e ao descrédito, apenas e simplesmente por não pertencerem ao gênero dominante. A boneca se depara com uma realidade difícil de um mundo que não é tão cor-de-rosa.
Em determinado momento a Barbie pede para conhecer a mulher que comanda a Mattel, a grande mulher que cria esse mundo cor-de-rosa, só que a diretora não é uma mulher, ninguém no comando é uma mulher, a secretária é uma mulher.
Na visita ao mundo real Ken descobre o patriarcado, e de uma forma muito cômica se vê representado por ele, afinal o mundo construído pelo “patriarcado” e para o “patriarcado” é uma representação de seus anseios e autoafirmação.
É nesse momento que Ken vê tudo que sempre quis (e obviamente um mundo oposto ao que vive com as Barbies), é uma sociedade em que ele é o centro, ele dirige carros, tem cargos importantes, dinheiro, as mulheres o servem. Faz todo sentido que ele goste disso e que não queira um mundo em que as mulheres estejam em situações superiores ou mesmo de igualdade.
O filme trabalha temas como a desigualdade salarial, a objetificação do corpo e a posição da mulher na sociedade, mostrando que elas duvidam de si mesmas. O filme demonstra a importância de superar os estereótipos de gênero e empoderar as mulheres em suas escolhas e aspirações.
Para além de um passeio pela infância e pelas memórias, ao inverter os papéis e os mundos, Barbie nos coloca diante de um espelho, nos forçando a questionar aquilo que geralmente é aceito como normal, provando que é necessário criticar a realidade que nos cerca.
Para além do fantástico mundo rosa, o filme convida a uma reflexão sobre o universo da feminilidade e os papeis ocupados pelas mulheres, mostrando que elas podem ser sim o que quiserem.
Referências
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RICHANI, Adriana. Barbie: do incentivo a um padrão de beleza irreal à tentativa de redenção. Veja Saúde, 2023. Disponível em: site. Acesso em: 28 ago. 2023
LANDIM, Wikerson. Crítica | Barbie é uma crítica – divertida, inteligente e surpreendente – a um ícone que moldou gerações. Mundo Conectado, 2023. Disponível em: site. Acesso em: 28 ago. 2023
BARBIE. Direção: Greta Gerwig. Produção: Village Roadshow Pictures.Estados Unidos: Warner Bros Pictures, 2023. Filme.