Brasil na mira dos EUA: minérios críticos viram arma geopolítica em meio à crise

Brasil na mira dos EUA: minérios críticos viram arma geopolítica em meio à crise

Brasil e Estados Unidos

O subsolo brasileiro entrou de vez no tabuleiro geopolítico internacional. Lítio, nióbio, urânio e terras raras, entre outros minérios críticos, tornaram-se alvos de interesse estratégico em um mundo que redefine cadeias produtivas e disputa influência sobre tecnologias do futuro. A corrida por esses recursos envolve não apenas comércio, mas também diplomacia, segurança e poder

Os minérios críticos brasileiros estão no radar das grandes potências como peça-chave da economia do futuro.

A partir de 1º de agosto, entra em vigor a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Sem apresentar qualquer justificativa de cunho comercial, a medida é interpretada pelo governo brasileiro como uma retaliação política. Nesse cenário, o interesse norte-americano pelos recursos minerais do Brasil pode se transformar em moeda de troca em uma disputa mais ampla por acesso estratégico e influência global.

Matérias-primas críticas são insumos indispensáveis para o avanço tecnológico e a segurança industrial de qualquer país. Como sua oferta muitas vezes depende de poucos fornecedores, esses recursos são altamente vulneráveis a choques geológicos, políticos ou comerciais. Por isso, EUA, China, União Europeia, e o próprio Brasil, já os tratam como tema de segurança nacional, com listas próprias de materiais considerados críticos à sua soberania produtiva.

No topo dessas listas estão os chamados minérios críticos e estratégicos (MCEs), fundamentais para setores como energia renovável, mobilidade elétrica, aeroespacial e defesa. São eles que alimentam turbinas eólicas, carros elétricos, satélites, baterias e chips. Hoje, a China domina a produção e, principalmente, o refino global desses insumos, em especial das terras raras. Mas o Brasil desponta como a segunda maior reserva mundial de terras raras e como uma das poucas alternativas viáveis fora da Ásia.

O que antes era uma questão técnico-industrial transformou-se em arma geopolítica. Em um mundo onde cadeias produtivas estão sendo redesenhadas à luz de pandemias, guerras e sanções, controlar o acesso a MCEs é tão estratégico quanto dominar o petróleo ou as tecnologias de ponta.

Apesar do potencial, o Brasil ainda exporta boa parte de seus minérios em estado bruto. O desafio é ir além da extração: refinar, industrializar e agregar valor localmente. Isso exige visão estratégica, investimento em ciência e tecnologia, e uma diplomacia econômica capaz de alinhar interesses públicos e privados.

A Resolução nº 2/2021 da Comissão de Governança da Mineração, que regulamenta o Decreto nº 10.657/2021, já estabelece uma lista com 45 substâncias minerais consideradas estratégicas para o Brasil — muitas delas essenciais para a economia verde e a indústria do futuro. Entre as mais relevantes estão as terras raras (neodímio, disprósio, térbio, gadolínio), nióbio, lítio, cobalto, grafite natural, cobre, níquel, urânio, titânio, tântalo, vanádio, molibdênio, platina e paládio, alumínio e silício metálico.

Esses recursos ganham valor não só por sua escassez, mas por seu papel no novo tabuleiro geoeconômico global. A inclusão de um minério em listas de materiais críticos pode, ao mesmo tempo, revelar a vulnerabilidade de quem depende dele e a vantagem competitiva de quem o possui.

O Brasil reúne ativos difíceis de replicar: matriz energética limpa, estabilidade geológica, histórico minerador e conhecimento técnico acumulado. Falta agora alinhar esses atributos a uma política industrial de longo prazo, com metas claras de agregação de valor, atração de investimentos e ampliação da capacidade de refino e transformação mineral.

O Brasil está no radar das grandes potências como peça-chave da economia do futuro. Cabe ao país decidir se continuará atuando como mero fornecedor de matéria-prima ou se assumirá, de fato, um protagonismo estratégico na nova era dos minerais críticos.

A janela de oportunidade está aberta. O mundo observa com atenção os próximos passos do Brasil.

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