Em 13 de setembro de 2022, nossa colunista Fernanda las Casas escreveu sobre os relacionamentos virtuais e perguntou: será que a consequência desta nova modalidade de relacionar-se virtualmente é capaz de alterar o conceito de fidelidade e infidelidade? (LAS CASAS, 2022)
Então, me ocorreu a pergunta: E o relacionamento com robôs humanoides, seria infidelidade?
O Ministério da Saúde Argentino, em abril de 2020, recomendou o sexo virtual como alternativa para manter o distanciamento social, sendo também seguido pela Colômbia (COLOMBO, 2020). O que, a princípio, pareceu um comportamento reprovável quando trazido aos holofotes, revelou uma prática há anos já realizada entre os internautas. E, para além disso, o relacionamento com robôs humanoides.
Fato que o Japão lidera o mundo na produção e fabricação de robôs. Isso se deve a um longo histórico de uso da tecnologia e uma afinidade com a automação. O país produz o maior número de robôs com mais da metade das ações mundiais em produção e fabricação. Alguns desses robôs são projetados como companheiros de casa para crianças e idosos. Outros são projetados para completar tarefas domésticas (CONCEIÇÃO, 2021).
O Japão faz mais uso de robôs do que qualquer outro país do mundo. Muitas fábricas no país empregam mecânicos para realizar 90% das soldas da carroceria. Isso ajudou fábricas como a Nissan, uma das maiores fabricantes de automóveis, a aumentar drasticamente sua produtividade. Também a Toyota trabalha em projetos de IA desde 2004. Seu trabalho se concentra em facilitar a vida de idosos e pessoas com deficiência.
Os bots não haviam assumido uma forma até então; eles estavam escondidos em nossos dispositivos e criavam alguma distância entre as pessoas. Garantindo nossa coexistência na sociedade, os bots ajudaram a facilitar isso. No entanto, isso começou a mudar. A tecnologia que era apenas máquinas sem forma se transforma em coisas tangíveis. Isso muda tudo para os humanos que devem interagir com essas máquinas. Em essência, isso ocorre porque as máquinas ainda são apenas máquinas.
A rápida incorporação de inteligência artificial em robôs muda o mundo de maneiras significativas. Algumas pessoas são sexualmente atraídas por robôs, conhecidos como robossexuais. A robótica viu enormes avanços tecnológicos que permitiram a criação de robôs semelhantes a humanos chamados robôs humanóides. Consequentemente, o número de pessoas interessadas em relacionamentos de robôs aumentou. (LEVY, 2007)
Geoff Gallager é o nome do homem; ele cresceu com sua cachorra Penny e acreditava que não encontraria alguém com quem tivesse uma conexão; assim, ele começou sua busca por amor em Queensland, Austrália. Depois de ler uma notícia sobre robôs de inteligência artificial, ele decidiu se casar com um. (SMITHERS, 2022)
Sempre houve uma conexão entre humanos e robôs. Em 2013, Dave Cat de Michigan, EUA, casou-se com um robô aos 40 anos. Dois anos depois, Lilly da França se apaixonou por um robô que ela fez com uma impressora 3D. Ela até tentou obter permissão para se casar com ele. Akihiko Kondo se apaixonou por um personagem de holograma em 2018; acredita-se que esta seja a primeira vez que um humano se casou com um holograma. Uma mulher chinesa chamada Zheng Jiajia se casou com um robô que ela criou chamado Yingying em 2017. (LEVY, 2007)
Algumas pessoas acreditam que sexo com robôs é um ato de blasfêmia devido a objeções religiosas. Outros vêem a ideia como louca e absurda. Eles argumentam que apenas o sexo com outro ser humano pode ser agradável e gratificante. Muitas pessoas se perguntam como os robôs interagiriam sexualmente e como seria estar com um. Algumas pessoas estão totalmente de acordo com a ideia e perguntam: “Onde posso comprar um?”
Uma empresa americana chamada Realrobotix vende um robô sexual chamado Harmony por US$ 8.000 a US$ 10.000. Além disso, existem robôs sexuais à venda na internet anunciados por outras empresas.
Ao imitar a emoção humana, um computador pode criar transferência. Esse efeito psicológico é tipicamente descrito como uma transferência subconsciente de sentimentos de uma pessoa para outra. Um computador pode causar transferências mais drásticas e imediatas porque exibe um comportamento inteligente como um humano.(LEVY, 2007)
Todavia, pesquisadores dos EUA alertam que a venda de robôs sexuais com inteligência artificial representa uma crescente ameaça ética e psicológica. Os robôs fornecerão sexo sem complicações ou limitações para pessoas de qualquer gênero. Eles também fornecerão variedade, permitindo que as pessoas satisfaçam a ideia de reciprocidade. Isso ocorre porque os robôs podem ser programados para agir e se parecer com qualquer pessoa que o comprador desejar.
Mas e quanto nossa pergunta inicial: O relacionamento com robôs humanoides, seria infidelidade?
Quando tratamos de relacionamentos envolvendo as redes sociais e ambientes de metaversos e games, são pessoas que “vestem” os personagens. Todavia, em um relacionamento com um robô humanóide estamos diante de um objeto dotado de IA, por mais que emule sentimentos. Por outro lado, se olharmos a pessoa que está com o robô, esta sim, tem sentimentos. E existe alguma forma de amor que não seja real? Vivenciar um relacionamento virtual, ou com robô, significa que não é real?
O cérebro pode confundir-se. Os relacionamentos vividos via ambiente virtual, muitas vezes, não nascem com a intenção de serem transportados para o ambiente não virtual, aspecto essencial de diferença entre os sites convencionais de namoro digitais e encontros, por exemplo. O Second Life, metaverso desde 2003, é palco de representações autorizadas e não menos reais para os sentimentos humanos. Sim, a simulação é, para todos os propósitos e intentos, fundamentalmente uma melhoria da realidade. Isto significa que simular a realidade não é apenas replicar a estrutura básica, mas também de fazer quaisquer arranjos para sincronizá-la aos nossos desejos.
E não foi o que fez Geoff Gallager? Portanto, como instituição jurídica, no Brasil, não podemos falar em um reconhecimento de relação entre humano e robô. Todavia, se considerarmos a afetividade como o vinculo da fidelidade, então seria o caso de infidelidade?
Como falar do Amor sem sua inseparável algoz a Traição… Ouso dizer que quem já viveu um amor também já viveu em algum momento uma traição. E a traição não deixa de existir porque é virtual. Traição é algo que acontece numa relação quando um dos envolvidos segue por um outro caminho e o outro fica desavisado.
Enquanto muitas pessoas pensam na infidelidade como fazer sexo com outra pessoa sem o conhecimento do parceiro, o conceito de traição permanece diferente para todos, especialmente quando o sexo envolve máquinas. Uma grande proporção de britânicos disse que consideraria adultério se seu parceiro fizesse sexo com um robô, de acordo com uma pesquisa do serviço de streaming Now TV.
De acordo com a pesquisa, seis em cada 10 britânicos acham que sexo com um robô é trapaça, com cerca de 36% dos entrevistados dizendo que ficariam felizes em fazer sexo com um robô. Embora os resultados mostrem que muitas pessoas são a favor das relações humano-humano, a maioria ainda se opõe à prática. 79% dos britânicos dizem que acham que esse tipo de relacionamento sexual é “moralmente errado”. Além disso, um terço dos entrevistados disseram que ficariam “assustados” se um de seus amigos iniciasse um relacionamento com um robô, enquanto 16% ainda tentariam convencê-los a terminar o relacionamento.(IG DELAS, 2017)
Muitos desafios estão ainda por vir… estamos preparados?
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Heloisa Helena de Almeida Portugal
Referências
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COLOMBO, S. Argentina recomenda sexo virtual e masturbação para solteiros durante pandemia. Disponível em: https://bit.ly/3LR2P2Z. Acesso em: 28 set. 2022.
CONCEIÇÃO, C. M. P. Sophia e a Concepção de Humanização de Robôs. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2021.
IG DELAS. Sexo com robô é traição? Maioria dos britânicos diz que “sim” | Amor e Sexo | iG. Disponível em: https://bit.ly/3RmIfZA. Acesso em: 28 set. 2022.
LAS CASAS, F. A (in)fidelidade nas relações conjugais no século XXI. Portal Jurídico Magis – Coluna Família aos Bocados, 13 set. 2022.
LEVY, D. Love + Sex with Robots: The evolution of Human-robot relationships. [s.l.] Harper Collins e-books, 2007.
SMITHERS, D. Man Falls In Love With Robot And Hopes To Marry Her. Disponível em: https://bit.ly/3RrKI4K. Acesso em: 28 set. 2022.