A construção da hipótese

A construção da hipótese

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Após finalizar a construção do tema problema, se o pesquisador desejar seguir uma sequência lógica,1 indica-se a elaboração da hipótese. Durante a escrita do projeto de texto, a reflexão sobre a hipótese é apresentada como a resposta à pergunta do tema problema. Portanto, a estruturação da hipótese está não só diretamente ligada ao tema problema como também depende dele para o seu desenvolvimento. Neste sentido, sua principal função é criar uma ponte entre a pergunta, as leituras previamente realizadas sobre o tema e as conclusões/diálogos2 do escritor sobre estas reflexões.

Ao idealizar a hipótese, é necessário que o autor se atente ao tipo de pronome interrogativo (e.g. qual, como, por que, onde) utilizado no tema problema. Isto porque ele vai determinar o modo como a questão apontada será respondida. Por exemplo, se o tema problema for é possível a redução de poluição do meio ambiente marítimo até o ano de 2030? existem 3 hipóteses possíveis, quais sejam sim, não e depende. Por sua vez, se o tema problema formulado for como é possível reduzir a poluição do meio ambiente marítimo até o ano de 2030? a construção da hipótese terá como foco encontrar instrumentos e soluções, como a aplicação efetiva da Agenda 2030 e a redução da pesca predatória.

de hipóteses permite a qualquer pesquisador, inclusive de iniciação científica, a organização do raciocínio argumentativo prévio e sua relação com todos os tipos de comprovação e de testes concretos. Dal porque o texto anterior refere-se à hipótese como um “

Além disso, é importante que o escritor tenha em vista quantas perguntas foram formuladas. A observação deste ponto é imprescindível para que todas as perguntas sejam respondidas não só no campo da hipótese, mas também ao longo do texto. Para facilitar a visualização do leitor e do próprio autor quando há mais de uma pergunta, sugere-se que cada uma delas seja formulada separadamente. Por exemplo, é possível a redução de poluição do meio ambiente marítimo até o ano de 2030? Como é possível reduzi-la?. Miracy Gustín destaca ainda que  hipótese permite a organização do raciocínio do autor-pesquisador:

A formulação de hipóteses permite a qualquer pesquisador, inclusive de iniciação científica, a organização do raciocínio argumentativo prévio e sua relação com todos os tipos de comprovação e de testes concretos. Dal porque o texto anterior refere-se à hipótese como um “rateio inteligente”, expressão bastante adequada por ser a hipótese uma formulação preliminar em que o pesquisador deve saber identificar em seu próprio sistema de referências, de forma seletiva e criativa, a resposta prévia que será passível de testagem durante a investigação. São características das hipóteses científicas aplicadas:

a) possuírem clareza conceitual;

b) estruturarem-se a partir de referências teóricas

c) apresentarem linguagem parcimoniosa e específicos,

d) referir a conceitos e valores que podem ser verificados (referência empírica).4 

Por fim, sabe-se que nem sempre uma pergunta formulada é passível de ser respondida. Alguns dos motivos são insuficiência de bibliografia e perda do interesse social da pergunta.5 Nestes casos, requer-se do pesquisador a sinceridade acadêmica acerca dos fatos ocorridos e, por conseguinte, da indicação de invalidade da hipótese.6 Nestes casos, o pesquisador não deve se autocondenar ou ser julgado por não ter alcançado a hipótese pretendida. Pelo contrário, ele merece o mesmo reconhecimento daqueles que validam a hipótese. Isto porque, ainda assim, houve contribuição para o setor científico, uma vez que é necessário testar diversas possibilidades para entender se ela é aplicável ou não para o caso concreto.7

Logo, assim como o tema problema, a hipótese é uma etapa importante para a construção do texto. Ela deve ser construída em formato de resposta à pergunta apresentada anteriormente, tendo como principal função a validação ou invalidação de uma ideia inicial. A hipótese será refutada se não suportar o teste, requerendo que seja realizado todo o processo de argumentos e testes novamente. De outro lado, a hipótese será ratificada, provisoriamente, até que outra hipótese a refute posteriormente, se o teste for suportado. É, a partir destes pontos, que o avanço da ciência ocorre quer seja para apresentar problemas novos, mais profundos e mais gerais quer seja para sujeitar suas respostas temporariamente. A ausência de clareza das variáveis e indicadores de pesquisa nas hipóteses tem se apresentado como um problema bastante comum em projetos de pesquisa.8

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Márcia Carolina Santos Trivellato

Olívia Maria Silva Felício

 

Referências

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1. A sequência lógica não é obrigatória apesar de ser uma didática que  pretende auxiliar na escrita. Ao escrever um texto e/ou um projeto, é mais importante que o autor se sinta confortável com as ideias que vão surgindo em sua mente e com a sua própria ordem do que com um sequenciamento imposto.

2. Para saber se o autor apresentará um diálogo entre as leituras realizadas ou uma conclusão própria, é preciso ter em vista o título que se pretende obter. Em TCCs, monografias e dissertações, o autor construirá um diálogo entre os autores lidos e apontará uma conclusão puramente baseada nessas leituras. Por sua vez, nas teses, à nível de doutorado e pós-doutorado, além da apresentação de ideias de outros autores, é possível escrever, também, conclusões produzidas a partir de observações próprias.

3. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2020, p. 114.

4. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2020, p. 115.

5. Principalmente quando a questão é solucionada. Isto porque o pesquisador é movido por uma celeuma existente na sociedade. Então, a partir do momento que ela é solucionada e deixa de existir, perde-se o interesse na pesquisa para aquele ponto específico, a menos que ainda existam outros pontos dentro da mesma temática a serem observados.

6. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 14. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1998, p. 21. SHIKIDA, Cláudio Djissey. Honestidade acadêmica e plágio. CASIMIRO, Márcia; DIÓS-BORGES, Marcelle; ALMEIDA, Renan MVR (orgs.). Políticas de integridade científica, bioética e biossegurança no século XXI. Porto Alegre: Editora Fi, 2017, p. 54-70. Disponível em: https://bit.ly/3nJIceD. Acesso em 19 nov. 2021.

7. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 80.

8. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 116.

 

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