A construção da revisão bibliográfica é uma fase preparatória para o desenvolvimento do texto acadêmico. Este é o momento de apresentar leituras através de conceitos, argumentos, contra-argumentos e outros pontos relevantes referentes à delimitação do tema-problema. Neste sentido, é um dos tópicos que mais requer o aprofundamento no que tange ao conteúdo apresentado por parte do autor. Nas palavras de Miracy Gustin poderá a revisão de literatura focar nos pontos significativos da literatura que permitam melhor entendimento do objeto de pesquisa e de sua problematização. Em um projeto a revisão da literatura só tem uma razão objetiva: justificar a investigação proposta.1
Para isso o pesquisador poderá analisar as etapas a seguir descritas pela professora Miracy Gustin:
1º) a partir da apresentação dos núcleos teóricos primordiais da literatura selecionada (geralmente os teóricos mais importantes daquele campo específico), demonstrar a ausência de análise ou análise insuficiente em relação ao objeto de estudo;
2º) apresentar por meio da abordagem da literatura selecionada, a existência de contradições insuperáveis entre os autores com relação ao problema posto e ao objeto da pesquisa;
3º) nos casos de não ser lacunosa a literatura sobre o assunto e de não conter contradições insuperáveis, o pesquisador pode querer demonstrar a inadequação das conclusões dos autores às condições sociojurídicas objetivas;
4º) apesar da ausência de todas as argumentações negativas anteriores, deseja retestar as conclusões dos autores sobre o objeto de estudo;
5º) existindo somente literatura estrangeira sobre o assunto, o investigador poderá pretender a adequação das conclusões às condições culturais de seu país, região, município etc.2
Após as etapas acima descritas para colocar em prática a construção da revisão bibliográfica, é possível estabelecer etapas seguintes a serem cumpridas. Dentre elas, a pesquisa de material, a leitura, o fichamento, a reflexão crítica e a escrita. A pesquisa de material se baseia na busca de bibliografias que correspondem à delimitação do tema-problema, a fim de atingir os objetivos e, ao final, confirmar ou refutar a hipótese. É importante lembrar que este conteúdo material deve ser construído com base em argumentos e contra-argumentos, uma vez que textos acadêmicos possuem a função de apresentar diferentes pontos de vista sobre uma mesma delimitação temática. Para encontrar materiais atuais, sugere-se a pesquisa em bibliotecas físicas e sites confiáveis (CAPES, repositórios de universidades, Google Scholar, Scielo, HeinOnline, Peace Palace).
Além da pesquisa, há também a fase da leitura. Por meio dela, o pesquisador identificará se, de fato, o material encontrado é interessante para atingir seus objetivos geral e específicos. Neste momento, é necessário estabelecer uma estratégia para administrar o tempo, qual seja ler as principais partes do texto (p. ex. resumo, introdução, trechos que digam respeito ao seu tema e conclusão), a fim de identificar se o material discute sobre pontos importantes para o desenvolvimento da pesquisa. Após essa identificação, exclui-se os eventuais livros que não dizem respeito à delimitação temática e separa para utilização aqueles que possuem correspondência. Com relação a esta última categoria, é importante notar que nem sempre todo o conteúdo presente nele dirá respeito à pesquisa. Dessa maneira, mais uma vez, sugere-se que a leitura seja direcionada para os tópicos e capítulos que mais se adequem ao projeto acadêmico.
Por sua vez, o fichamento se trata de um breve registro com as principais informações de cada leitura realizada. Ele pode ser constituído por indicação de citações curtas diretas, citações longas diretas, citações indiretas, bem como por reflexões e conclusões do próprio pesquisador. Com isso, um fichamento pessoal é construído de acordo com a metodologia adotada por cada escritor. Para quem optar por fichar textos, é importante lembrar de reunir as principais informações sobre ele, tais como elementos constitutivos da futura referência bibliográfica e páginas das citações diretas e indiretas.3
Após/durante as etapas anteriores, é necessário estabelecer uma reflexão crítica sobre o material pesquisado e as leituras cumpridas. Isto porque um texto acadêmico deve conter diálogos entre as leituras realizadas e as conclusões do pesquisador diante da assimilação do conteúdo. Portanto, sem ela, é impossível promover uma comunicação crítica no que tange à questão estudada.
Por fim, é o momento de executar todo o planejamento por meio da escrita. A partir dela, o pesquisador identifica os marcos teóricos (principais autores que darão base à sustentação dos argumentos e dos contra-argumentos) e os principais conceitos e ideias desprendidos das leituras desses autores. Para tanto, recomenda-se citar os nomes das obras utilizadas e dos autores, bem como realizar citações diretas e indiretas como forma de abordar conceitos e ideias relevantes. O cientista não deve esquecer também de promover um diálogo entre os marcos teóricos e suas reflexões e conclusões.
Os estágios acima elencados podem ser cumpridos de maneira sequencial, conforme apresentado. Porém, também pode ser realizado de maneira simultânea. Em regra, quem utiliza esta última técnica, não costuma produzir fichamentos, pois a leitura e a escrita são realizadas de maneira concomitante. A técnica metodológica utilizada irá variar de acordo com cada escritor. E, assim como em todas as demais etapas, é necessário que o pesquisador possua consciência de que o autoconhecimento em termos de estudo auxilia na escolha da melhor técnica.
Em resumo, a construção da revisão bibliográfica é uma das etapas mais profundas, detalhadas e longas do processo de construção do texto acadêmico. Para desenvolvê-la, é possível observar alguns estágios (pesquisa de material, leitura, fichamento, reflexão crítica e escrita), que podem ser realizados de maneira sequencial ou simultânea. Além disso, é importante lembrar da importância da utilização de argumentos e contra-argumentos, bem como do registro dos elementos essenciais para a construção da futura referência bibliográfica.
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Márcia Carolina Santos Trivellato
Referências
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1. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. Pg. 126.
2. GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a Pesquisa Jurídica: teoria e prática. Pg. 126.
3. Para a ABNT, a indicação da página é obrigatória tanto para as citações diretas quanto indiretas.