Introdução
A Inteligência Artificial (IA) tornou-se elemento central nas disputas geopolíticas do século XXI. A capacidade de desenvolver, aplicar e controlar tecnologias de IA é hoje um diferencial estratégico entre nações. Em meio a essa nova corrida tecnológica, Estados Unidos e China despontam como protagonistas, disputando não apenas mercados e patentes, mas também a normatização ética, política e econômica do futuro digital.
E o momento requer atenção para a questões geopolítica e dinâmica dos mercados de tecnologia.
O presente texto pretende instigar a investigação sobre como a geopolítica molda os rumos da pesquisa e desenvolvimento em IA, destacando as estratégias nacionais de Estados Unidos e China e os impactos dessa rivalidade para o mundo, com especial atenção ao papel do Brasil nesse cenário.
- A Geopolítica Tecnológica da IA
A geopolítica tecnológica é um campo emergente que busca compreender como o poder é exercido através da ciência, da tecnologia e dos dados, em um mundo de produção continua de informações e interações tecnológicas.
. A IA, ao integrar capacidades como aprendizado de máquina, visão computacional, processamento de linguagem natural e automação inteligente, transforma-se em ativo estratégico, com impactos na segurança nacional, economia e influência global (KAZI, 2020) e social.
A disputa por liderança na IA é marcada por investimentos massivos em pesquisa, infraestrutura computacional, captação de talentos e controle de fluxos de dados. Tal como no passado as rotas marítimas e energéticas definiram o poder global, hoje os dados e algoritmos assumem essa função.
- A Disputa EUA x China: Corrida Tecnológica do Século XXI
2.1. Estratégias dos Estados Unidos
Os Estados Unidos mantêm posição de destaque graças à força de seu ecossistema de inovação, suas universidades de ponta, empresas como Google, OpenAI, Microsoft e NVIDIA, e seu domínio sobre patentes essenciais. A “Executive Order on Safe, Secure, and Trustworthy Artificial Intelligence” de 2023 reforça o compromisso com o desenvolvimento ético e seguro da IA, voltado à preservação da hegemonia americana no setor (WHITE HOUSE, 2023).
3.2. Estratégias da China
A China, por sua vez, incorporou a IA como prioridade em seu plano “Next Generation Artificial Intelligence Development Plan”, lançado em 2017. Com apoio estatal, fusão civil-militar e políticas industrializadas de inovação, empresas como Baidu, Alibaba e Huawei representam a vanguarda chinesa na IA. O país investe fortemente em vigilância algorítmica, smart cities e IA militar (DING, 2018).
- Impactos Globais da Corrida Tecnológica
A polarização entre Estados Unidos e China gera implicações profundas para o restante do mundo. Os países não centrais enfrentam o risco de se tornarem meros consumidores de tecnologias, subordinando-se às infraestruturas digitais e aos marcos regulatórios impostos pelas grandes potências.
Além disso, a fragmentação digital ameaça a governança global da Internet e dos dados, intensificando dilemas como o uso ético da IA, a proteção de direitos fundamentais, a segurança cibernética e a soberania digital.
- Reflexos para o Brasil: Riscos e Oportunidades
O Brasil encontra-se em uma posição delicada, marcada por desafios estruturais em infraestrutura digital, baixa densidade de inovação e dependência tecnológica. A ausência de uma estratégia nacional robusta para IA pode agravar a subordinação do país a padrões externos, comprometendo sua soberania tecnológica (CASTRO; FERREIRA; GONZAGA, 2021).
Contudo, existem oportunidades relevantes: o Brasil pode ocupar um papel relevante na diplomacia tecnológica, na regulação ética da IA e no desenvolvimento de soluções inclusivas e sustentáveis voltadas ao Sul Global. Iniciativas como a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) de 2021 precisam ser fortalecidas com investimentos, parcerias internacionais e incentivo à pesquisa local, e não podemos esquecer a Regulação de Inteligência Artificial no legislativo.
Considerações Finais
A compreensão geopolítica da IA é indispensável para analisar os rumos da sociedade global e o papel dos países periféricos nesse processo. A disputa entre Estados Unidos e China revela uma nova arquitetura do poder mundial, pautada pela soberania algorítmica e controle dos fluxos informacionais.
Ao Brasil cabe decidir se será um ator estratégico ou um espectador passivo dessa transformação nesse momento, mas torço para que esse posicionamento se modifique.
Referências
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CASTRO, Carlos Afonso; FERREIRA, André; GONZAGA, Danilo. Inteligência Artificial, Geopolítica e Soberania Tecnológica: desafios para o Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 64, n. 2, p. 1-18, 2021. Disponível em: site. Acesso em: 08 abr. 2025.
DING, Jeffrey. Deciphering China’s AI Dream: The context, components, capabilities, and consequences of China’s strategy to lead the world in AI. Future of Humanity Institute, University of Oxford, 2018. Disponível em: site. Acesso em: 08 abr. 2025.
KAZI, Taslim. Artificial Intelligence and Geopolitics: Strategic Rivalries and the Emerging Global Order. Journal of Strategic Studies, London, v. 43, n. 5, p. 789–812, 2020. DOI: 10.1080/01402390.2020.1743971.
WHITE HOUSE. Executive Order on the Safe, Secure, and Trustworthy Development and Use of Artificial Intelligence. The White House, Washington, D.C., 30 out. 2023. Disponível em: site. Acesso em: 08 abr. 2025.