Em uma era de crescente reconhecimento da diversidade como fonte de riqueza cultural e social, a superação de estereótipos e a inclusão efetiva de pessoas com deficiência representam desafios significativos e urgentes, torna-se imperativo reconhecer e valorizar cada indivíduo além de qualquer rótulo.
Os meses de março e abril destacam-se ao longo do ano, por marcarem datas específicas de grupos por elas representados, em busca de maior consciência e consequentemente mais inclusão. E é por isso, que o presente artigo, traz em si as últimas temáticas abordadas nos eventos que tiveram como tema o estudo da T21 e do autismo neste presente ano, posto que as mudanças são latentes e devem ser implementadas com urgência.
No corrente ano comemoramos dois marcos instituídos que nos remetem a essa discussão social imprescindível para a sociedade que busca a inclusão. O primeiro, dia 21 de Março “o Dia Internacional da Trissomia do 21 (Síndrome de Down)”, por remeter a condição genética dos três cromossomos do alelo 21; e o segundo, dia 02 de Abril foi instituído como a dia “Mundial de Conscientização do Autismo” definido pela Organização das Nações Unidas a partir de 2007, duas datas que nos convidam a refletir profundamente sobre questões bastante suscitadas e discutidas na sociedade atual.
Sobre esses temas, estudos indicam que a Trissomia do 21, uma condição genética resultante de uma cópia extra do cromossomo 21, tem uma prevalência de aproximadamente 1 (um) a cada 750 (setecentos e cinquenta) nascimentos. Por outro lado, o Transtorno do Espectro Autista é estimado estar presente em 1 (um) a cada 36 (trinta e seis) indivíduos (considerando o estudo publicado pela CDC que tem por amostragem grupo de crianças de oito anos). Assim, sublinham a importância de uma sociedade preparada para acolher e valorizar essa diversidade, mas acima de tudo fazer valer seus direitos nas esferas educacionais, médicas, jurídicas e sociais em todas as suas vertentes. As estatísticas indicam uma prevalência notável dessas condições, apontando para a necessidade de políticas inclusivas e efetivas, além de uma mudança cultural profunda que desafie os estereótipos prejudiciais, promovendo a influência na cultura para que ela se torne mais inclusiva e respeitosa.
Estereótipos como a visão de que pessoas com Trissomia do 21 como perpetuamente infantis ou percepção de indivíduos com autismo como intrinsecamente antissociais, distorcem não apenas a compreensão pública dessas condições, mas também contribuem para a sua marginalização. A complexidade do ser humano não permite reduções simplistas. A realidade é muito mais complexa e rica: indivíduos com essas condições, como quaisquer outros, desde que devidamente assistidos e lhe dada a devida oportunidade demonstram uma ampla gama de capacidades, talentos e contribuições à sociedade.
Histórias de sucesso, nas quais pessoas desses grupos demonstram suas capacidades únicas, habilidades e contribuições à sociedade são frequentemente subestimadas ou extremamente exaltadas enquanto casos isolados. A questão é que faltam oportunidades de acesso e ampla participação social de forma a permitir que histórias de sucesso se repitam para todos e não apenas para pequenos grupos. Desafiar desses estereótipos é que nos incentivará a uma visão mais inclusiva e realista, valorizando a singularidades e as capacidades individuais.
Neste ampliar de consciência temos dados que são estarrecedores e não podem deixar de ser enfrentados, compartilhados e discutidos em prol de políticas públicas que sejam efetivas, bem como sejam encontradas soluções alternativas aos problemas sociais encontrados.
Ressalta-se que os primeiros acessos à saúde, a priorização dos cuidados desde os primeiros momentos de vida fez com que a expectativa de vida de pessoas com T21 triplicou ao longo de 30 (trinta) anos, o que demonstra que a dedicação eleva os dados e viabilizam qualidade de vida. Lado outro, precisamos discutir sobre os dados que ainda são desafiadores e afetam a sociedade como o todo.
As estatísticas revelam desafios impressionantes enfrentados pelas famílias: a alta taxa de abandono por genitores paternos, 70% (setenta por cento), antes da criança com deficiência intelectual completar cinco anos de idade; e, a vulnerabilidade a abusos, destacam a urgência da priorização de apoio social e psicológico robusto às famílias e aos indivíduos que compõem a rede de apoio extensa. Programas de suporte familiar, educação sexual adequada, medidas preventivas contra abusos são cruciais para proteger e empoderar esses indivíduos.
A educação, por exemplo, é um dos pilares fundamentais para a inclusão. Dados alarmantes sobre a alfabetização de pessoas com Trissomia do 21, que não ultrapassam 10% em três décadas, refletem a necessidade de reformas educacionais profundas. A inclusão educacional efetiva vai além de adaptações curriculares, mas também necessita de um ambiente acolhedor que promova o aprendizado de todos os alunos, respeitando suas necessidades e potencialidades.
Inúmeras iniciativas ao redor do mundo ilustram o sucesso da inclusão. Programas que promovem a interação social e a compreensão mútua entre pessoas com e sem deficiência são essenciais para que sejam derrubadas barreiras invisíveis, que reforçam o capacitismo atitudinal. Essas iniciativas variam desde programas educacionais inclusivos, práticas de contratação diversificada em empresas e campanhas de conscientização que refletem e revelam o protagonismo da pessoa com deficiência.
Desta forma, para que nos tornemos agentes ativos promotores de mudança, podemos utilizar das mídias e tecnologias, ao nosso favor, considerando que elas têm um papel fundamental na promoção da inclusão e no combate aos estereótipos, por sua alta utilização e visibilidade. As campanhas de conscientização, representação positiva e autêntica nas mídias, e o uso de tecnologias assistivas, compõem aspectos fundamentais para uma sociedade mais inclusiva. É necessário, inclusive frisar que, em particular, a tecnologia oferece oportunidades sem precedentes para a eliminação de barreiras de comunicação, aprendizado e interação social quando relacionada a distância e oportunidades.
Este artigo não é apenas um convite ao diálogo, mas um chamado à ação. A inclusão efetiva e o respeito às diferenças exigem compromisso de cada um de nós. Ao desafiar estereótipos, promover políticas públicas inclusivas, e participar ativamente em iniciativas de suporto, podemos contribuir para uma sociedade não é apenas vista, mas aceita com valorização de fonte de força e enriquecimento. No cerne de nossa discussão está o Princípio inalienável da Dignidade Humana, garantindo que cada indivíduo, independentemente de suas condições, merece respeito, compreensão e oportunidades iguais.
A jornada pela inclusão e pelo respeito às diferenças é contínua e complexa, porque envolve questões que estão além das designações legais, é preciso que as leis sejam devidamente aplicadas, e, para tanto, sendo imprescindível a mudança de consciência e, consequentemente, de comportamento. Cada passo em direção à inclusão não apenas beneficia indivíduos com deficiência, mas enriquece a sociedade como um todo, promovendo um mundo mais justo, empático e diversificado.
Referências
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13º Simpósio Internacional da Síndrome de Down (T21) – A família como pilar importante no desenvolvimento (Belo Horizonte – 2024).
12º Seminário sobre Autismo (Uberlândia – 2024).
CDC – Center for Disease Control and Prevention (EUA) – Revista Autismo – Canal Autismo.com.br
Pesquisa Quantitativa – Belo Horizonte – Perfil de pessoas com deficiência – Dezembro de 2020 – Vox Populi e Instituto Mano Down.
UNICEF – For Every Child – Dados do Uniccef: Acompanhamento da situação das crianças e das mulheres – Crianças com Deficiência – link – Acesso em 05 de 2024.