Alemães que disseram “Não” a Hitler: a pouco conhecida história da objeção de consciência alemã ao regime nazista

Alemães que disseram “Não” a Hitler: a pouco conhecida história da objeção de consciência alemã ao regime nazista

Objeção de Consciência

O regime nazista obteve amplo apoio popular na Alemanha. Inclusive, após a Segunda Guerra Mundial os diversos governos alemães têm reconhecido a responsabilidade histórica da Alemanha sobre o Holocausto. Digno de nota é que de forma inovadora a Alemanha, desde o fim da década de 1950, tomou a iniciativa de indenizar os sobreviventes da ditadura nazista. Outro fato interessante é que nem todos os alemães concordavam com os ideais nazistas. Muitos se opuseram a Hitler e perderam sua liberdade e, não raro, sua vida, por denunciar as atrocidades do referido regime. Este fato é pouco conhecido e o presente texto pretende trazer informações neste sentido.

Movimento “Rosa Branca”: O movimento foi fundado por jovens estudantes da Universidade de Munique (Alemanha). Esses jovens alemães queriam denunciar a natureza criminosa do regime nazista e conclamar a nação alemã a se revoltar contra o partido nazista para restabelecer as liberdades individuais. De início faziam pichações pelos muros da universidade, bem como pela cidade com mensagens antinazistas. Porém, depois começaram a distribuir panfletos atacando o nazismo.

Hans Scholl e Sophie Scholl

Dois dos seus líderes foram Hans Scholl e sua irmã Sophie Scholl (fotos acima). Ambos foram pegos distribuindo panfletos do movimento. Isso resultou na prisão e morte dos dois. O movimento foi duramente reprimido pelos nazistas. Hoje, há um Memorial na Universidade de Munique em homenagem aos “irmãos Scholl” e ao movimento “Rosa Branca”.

Testemunhas de Jeová (Triângulos Roxos): Nos campos de concentração e extermínio nazistas, os prisioneiros eram identificados por símbolos em seus uniformes. As “Testemunhas de Jeová” foram identificadas com um “Triângulo Roxo” invertido. Desde o início do regime nazista (1933), foram duramente reprimidas e tiveram sua sede confiscada. Foram proibidas em toda a Alemanha por Hitler.

Testemunhas de Jeová

As Testemunhas de Jeová se recusavam a fazer a saudação “Heil Hitler!” (que pode ser entendida como: “Salve, Hitler!” ou “A salvação pertence a Hitler!”). Também não participavam das associações nazistas, não prestavam serviço militar e denunciavam as atrocidades que estavam ocorrendo nos campos de concentração e extermínio contra judeus, poloneses e outros. Os nazistas submeteram as Testemunhas de Jeová a todo tipo de tortura física e psicológica na tentativa de faze-las renunciarem suas crenças. Também retiravam filhos de Testemunhas de Jeová da guarda de seus pais para criá-los fora do ambiente religioso de sua família e pressioná-los a aceitar a ideologia nazista.

Oponentes políticos e a Orquestra Vermelha: para Hitler assumir o poder absoluto na Alemanha, o mesmo perseguiu diversos oponentes políticos, em especial os socialdemocratas e os comunistas. Em fevereiro de 1933, após o incêndio do “Reichstag” (parlamento alemão), os nazistas culparam os comunistas e lançaram o partido comunista alemão na clandestinidade. Mais do que isso, os reprimiram violentamente. O mesmo ocorreu com o Partido Socialdemocrata Alemão quando Hitler assumiu o poder absoluto em 1934.

Também havia vários grupos antinazistas, alguns de espionagem soviética, que atuaram na Alemanha e que ficaram conhecidos como “Orquestra Vermelha”. O mais famoso deles foi coordenado pelo polonês Leopol Treper, o qual junto com a resistência alemã passava informações do exército nazista para seus inimigos.

A conspiração no Exército alemão: dentro do próprio exército alemão havia opositores a Hitler. Alguns tinham receio de que Hitler levasse a Alemanha para mais uma grande guerra no continente europeu (o que de fato ocorreu). Outros não gostavam de seu caráter ditatorial. Haviam aqueles que também não suportavam sua ideologia. De fato, os conspiradores planejaram diversos atentados a vida de Hitler. O mais destacado destes foi o de 20 de julho de 1944, quando o coronel Claus Von Stauffenberg numa reunião militar deixou uma mala com bombas perto de Hitler. No entanto, Hitler saiu do local de reunião antes de a mesma explodir.

 Na contramão do clero (Dietrich Bonhoeffer e Martin Niemöller): A história mostra que tanto a Igreja Católica quanto o clero protestante apoiaram Hitler. Inclusive o Vaticano fez uma concordata com Hitler em 1933 e os protestantes também fizeram alianças com o regime. No entanto, Bonhoeffer e Niemöller andaram na contramão do clero.

Bonhoeffer era pastor luterano. Ao discordar da posição pró-nazista tomada pelas igrejas evangélicas alemãs, fundou a Igreja Confessante e depois se uniu a um grupo antinazista junto com um general alemão chamado Hans Oster. Foi preso em 1943 por ajudar judeus a fugirem da Alemanha e acabou sendo enforcado na prisão de Flossenbürg em 1944.

Niemöller também era pastor luterano. No início admirava o espirito nacionalista dos nazistas. Porém, com o tempo se distanciou do regime ao ver a tentativa de Hitler controlar a vida religiosa na Alemanha e, assim como Bonhoeffer, se revoltou com a posição pró-nazista da maior parte dos clérigos nas igrejas evangélicas alemãs. Também participou da fundação da Igreja Confessante. Passou a proferir sermões criticando o regime nazista. Por fim, passou sete anos nos campos de concentração de Sachsenhausen e Dachau.

Salvando judeus (Wilm Hosenfeld e Oskar Schindler): Durante a ocupação nazista, houve pessoas que arriscaram suas vidas para proteger judeus e outras vítimas do nazismo. Nunca saberemos de todos os relatos. A grande maioria se trata de “heróis anônimos” ou “objetores de consciência” desconhecidos do regime nazista. No entanto, existem algumas histórias conhecidas. Dentre elas temos a do capitão do exército nazista Hosenfeld que durante a ocupação nazista da Polônia ajudou muitos judeus a escaparam do extermínio. Infelizmente, acabou morrendo num campo de prisioneiros soviético após a guerra em decorrência de sua ligação com o regime nazista.

Outra história conhecida foi a de Oskar Schindler narrada no famoso filme “A lista de Schindler” de Steven Spilberg. Nascido na antiga Thecoslováquia, mas de nacionalidade alemã, se tornou membro do partido nazista e, de início, explorou a mão-de-obra de prisioneiros de campos de concentração fazendo fortuna. Depois, gastou sua fortuna para salvar mais de 1.200 judeus do extermínio.

Oskar Schindler

O homem da foto (August Landmesser): A foto do início do artigo mostra um homem que se recusa a fazer a saudação nazista. A identidade deste homem tem sido atribuída a “August Landmesser”, o qual foi identificado por sua filha nesta foto. Landmesser ingressou no partido nazista em 1931 para conseguir emprego. No entanto casou-se com uma judia e teve duas filhas. Seu casamento não foi reconhecido pelas leis nazistas. Numa cerimônia de inauguração de um navio, que contou com a participação de Hitler, se recusou a realizar a saudação. Acredita-se que Landmesser morreu em 1944 numa batalha na Croácia. Em 1951, o governo alemão reconheceu seu casamento com sua esposa judia (na época também falecida), a fim de possibilitar que suas filhas utilizassem seu sobrenome, se assim desejassem.

 

Referências

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1. Fonte da foto de capa: link.

2. Fonte da primeira foto: link.

3. Fonte da segunda foto: link.

4. Fonte da terceira foto: link.

5. Fonte da quarta foto: link.

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