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Automação e inteligência artificial: seremos (nós humanos) substituídos? Parte 01 – A internet das coisas

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Bom dia, Katrina. São seis horas e trinta minutos, tempo estável, ensolarado, com temperatura média de 27º C. E ao som de uma música alegre, Katrina abre seus olhos e responde: Alexa, prepare o café da manhã. Katrina levanta da cama e segue em direção ao banheiro, defronte ao espelho que acende as luzes e escuta as informações da saúde de sua pele, além das recomendações de cosméticos para uso. Algum tempo depois, já na cozinha, Katrina toma o café e o pão ainda quentes e recém feitos. Ao sair para o trabalho, na garagem, diz: Alexa, modo segurança diurna. Saindo para o trabalho. A casa então é trancada, alarmes ligados, os irrigadores do jardim acionados e a porta do carro abre-se. Dentro do carro, também por comando de voz, liga o carro que, em modo de direção automática, a leva ao trabalho, dando informações sobre as principais notícias e condições do trânsito.

Em uma primeira leitura pode parecer que se trata de cena de ficção científica, todavia, consiste em um breve relato da aplicação da inteligência artificial na automação em residências e veículos, criando casas inteligentes e veículos autônomos: a chamada internet das coisas (Internet of Things – IoT).

De um modo geral, IoT refere-se à interconexão em rede de objetos do cotidiano, que são frequentemente equipados com inteligência onipresente. Surgida recentemente, a “internet das coisas” consiste em um novo conceito de “rede”, que abrange comunicações e processamento dos mais diversos equipamentos. IoT aumentará a onipresença da Internet, integrando cada objeto para interação via sistemas embarcados, o que leva a uma rede de dispositivos que se comunicam com seres humanos, bem como outros dispositivos.1

Estamos hiperconectados?

Inicialmente cunhado para descrever o estado de disponibilidade dos indivíduos para se comunicar a qualquer momento, o termo hiperconectividade tem desdobramentos importantes. Podemos citar alguns: o estado em que as pessoas estão conectadas a todo momento (always-on); a possibilidade de estar prontamente acessível (readily accessible); a riqueza de informações; a interatividade e o armazenamento ininterrupto de dados (always recording).2 A hiperconectividade gera produção massiva de dados. Quanto maior o número de dispositivos conectados, mais dados são produzidos.

Se de um lado, a internet das coisas representa um aumento de praticidade e conforto, de outro também representa um risco. Há conforto quando a rede elétrica acende de acordo com o movimento dos seus moradores ou ainda quando espelhos informam, pela leitura facial, a saúde da pele e possíveis sintomas de doenças mais graves, acionando contato com médicos e hospitais cadastrados. Nesse sentido, a tecnologia pode, inclusive, evitar infartos fatais por meio do contato rápido com serviços de socorro.

Por outro lado, a presença de dispositivos ligados à internet aumenta também os riscos de cibercrimes. Mais preocupante para a maioria das pessoas é a debilidade da segurança. Hacks perigosos e cyber sequestradores, por exemplo, a partir de dispositivos médicos podem atuar, ou casas podem se tornar ThingBots ou spammers através de consoles de jogos, geladeiras, e roteadores domésticos.3

O conceito de IoT evoluiu de para diferentes tecnologias como sensores, protocolos de aprendizado de máquinas, análise em tempo real e sistemas inteligentes que podem capturar dados e compartilhá-lo na vida diária para realizar a tarefa necessária. Aplicativos de IoT estão alcançando cidades inteligentes, carros, dispositivos, sistemas de entretenimento, casas, e saúde conectada.

Esta tecnologia está crescendo, por exemplo, no monitoramento da saúde durante a pandemia de COVID-19. No cenário atual, muitas pessoas morrem devido a informações intempestivas sobre saúde, e por meio da IoT, sua tecnologia pode rapidamente notificar em tempo as questões relacionadas com a saúde através da utilização de sensores. Essa tecnologia pode capturar a atividade diária de uma pessoa e fazer alertas sobre problemas de saúde, salvando vidas.

A IoT está mudando nosso estilo de vida e a maneira de trabalhar as tecnologias, reunindo em uma mesma “página” vários aplicativos da vida cotidiana. No entanto, a IoT tem que enfrentar vários desafios na forma de golpes cibernéticos, além da probabilidade de ataque de Ransomware.4

E neste ponto, convido a uma das reflexões possíveis a partir desse post: Como conciliar o inexorável avanço tecnológico da IoT com eficiência e segurança? Nós, humanos, estamos controlando ou sendo controlados?

Ao solicitar o trajeto de um ponto a outro em uma cidade para aplicativos de mapas e rotas, recebemos as instruções e seguimos. Em 2015, o jornal francês Le Point estampou em sua capa: “Quando um erro de GPS conduz à morte”. Sobre o fato, em nota, o aplicativo Waze disse que é difícil impedir que motoristas naveguem para uma região perigosa se este é o destino selecionado pois pessoas que moram nessas áreas precisam chegar às suas casas.5

Em fevereiro de 2022, a Agência da União Europeia para Cibersegurança (ENISA) apresentou relatório afirmando que os veículos autônomos, baseados em inteligência artificial para guiar o carro sem precisar de um condutor, são altamente vulneráveis a uma ampla gama de ataques que podem ser perigosos para os passageiros, pedestres e pessoas em outros veículos.6

O ataque de ransomware está se tornando difundido diariamente e está trazendo consequências desastrosas, incluindo perda de dados confidenciais, perda de produtividade, destruição de dados e perda de reputação e tempo de inatividade dos negócios. O que leva ao decréscimo diário de milhões de dólares devido ao tempo de inatividade. Isso é inevitável para que as organizações revisem suas metas anuais de segurança cibernética e precisem implementar um plano adequado de resiliência e recuperação para manter os negócios funcionando, além de manter pessoas seguras.

Ademais, como salienta Eduardo Magrani: a combinação entre objetos inteligentes e big data poderá alterar significativamente a maneira como vivemos. Pesquisas estimaram que, em 2020, a quantidade de objetos interconectados passaria dos 25 bilhões, podendo chegar a 50 bilhões de dispositivos inteligentes. As projeções para o impacto desse cenário de hiperconexão na economia são impressionantes. A estimativa de impacto econômico global corresponde a mais de US$ 11 trilhões em 2025.7

Essas informações nos levam ao começo de nosso próximo post: a empregabilidade. Observa-se que no exemplo utilizado no início não houve uma interação humana sequer com a nossa personagem Katrina. Onde estão as pessoas que faziam o que hoje faz a Alexa? Onde estão os motoristas que faziam o que hoje fazem os caminhões inteligentes de transportes?

O relatório divulgado pela UC Bekerley Center for Labor and Education and Working Partnerships, assinado pelo sociólogo Steve Viscelli, da Universidade da Pensilvânia, constata que os caminhões autônomos podem significar a extinção de 294 mil empregos só nos Estados Unidos.8

Sem dúvidas novos desafios surgem enquanto são criadas novas aplicações para IoT, restando a nós os enfrentarmos com humanidade. Até a próxima!

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Heloisa Helena de Almeida Portugal

 

Referências

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1. FAZION FILHO, M. Internet das Coisas (Internet of Things). [s.l: s.n.].

2. MAGRANI, E. A internet das coisas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018.

3. CUI, X. The Internet of Things. In: MORAN, S. (Ed.). . Ethical Ripples of Creativity and Innovation. London: Palgrave Macmillan UK, 2016. p. 61–68.

4. Internet of things and ransomware: Evolution, mitigation and prevention | Elsevier Enhanced Reader. Disponível em: <https://reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S1110866520301304?token=60443F74937775B6245797E6BCE35309E4E2CDA1853470C7F249151C08F76181C2366E51C2998971B771FBF5262679D6&originRegion=us-east-1&originCreation=20220125225856>. Acesso em: 25 jan. 2022.

5. RIO, D. G. Morte após erro de caminho no RJ repercute na imprensa internacional. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10/morte-apos-erro-de-caminho-no-rj-repercute-na-imprensa-internacional.html>. Acesso em: 25 jan. 2022.

6. Cybersecurity Challenges in the Uptake of Artificial Intelligence in Autonomous Driving. Report/Study. Disponível em: <https://www.enisa.europa.eu/publications/enisa-jrc-cybersecurity-challenges-in-the-uptake-of-artificial-intelligence-in-autonomous-driving>. Acesso em: 25 jan. 2022.

7. MAGRANI, E. A internet das coisas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018.

8. Caminhões autônomos são uma ameaça real à profissão caminhoneiro? Disponível em: <https://www.mobiauto.com.br/revista/caminhoes-autonomos-sao-uma-ameaca-real-a-profissao-caminhoneiro/1229>. Acesso em: 25 jan. 2022.

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