Bitcoin é que o sistema financeiro deveria ser

Bitcoin é que o sistema financeiro deveria ser

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Recentemente, assisti a um vídeo publicitário de um evento do mercado financeiro em que o locutor afirmava: o PIX é o que o Bitcoin veio para ser, mas não conseguiu. Soltei uma gargalhada interior.

No início de julho, a imprensa noticiou um ataque hacker supostamente praticado contra a empresa CMSW, intermediadora de transações na rede do PIX. Segundo veiculado, o incidente teria desviado aproximadamente 1 bilhão de reais. Já no final de agosto, quase dois meses depois, veículos de comunicação apontaram a Sinqia como nova vítima, indicando a suspeita de desvio de mais de 400 milhões de reais. Ainda que parte significativa dos valores tenha sido recuperada, a gravidade dos fatos permanece. O que não se recupera é a imagem de um sistema aparentemente com muitas falhas.

O registro desses eventos não é isolado. O PIX, sistema já em vigor por considerável período, tem sido constantemente associado a novos incidentes noticiados. O que merece especial atenção é que, em breve, teremos o DREX em pleno funcionamento, introduzindo desafios inéditos e potenciais vulnerabilidades, tanto de ordem tecnológica quanto ideológica, como ocorre atualmente com o PIX.

Nesse contexto, ganha destaque a inconsistência da comparação mencionada no início do texto, na medida em que se concede ao PIX uma suposta vitória sobre o Bitcoin. Importa observar que, desde 2008, o Bitcoin não apresentou qualquer incidente relevante de segurança. Ao contrário, sua arquitetura distribuída tem se mostrado resistente aos ataques observados em modelos centralizados, como o PIX e o DREX.

O Bitcoin foi concebido por Satoshi Nakamoto justamente para dispensar intermediários: a responsabilidade recai integralmente sobre cada usuário e suas condutas. Essa característica, de grande relevância internacional, enfrenta resistência no Brasil, país marcado pelo paternalismo, onde poucos assumem o controle de suas próprias decisões e a autorresponsabilidade.

Por seu turno, tanto o PIX quanto o DREX permanecem dependentes de operadores intermediários, alvos recorrentes de práticas criminosas. Ainda assim, é fato notório que o PIX passou a desempenhar papel relevante no cotidiano social e econômico brasileiro, observando-se impactos positivos em negócios, apesar dos inúmeros problemas já diagnosticados. Reconhece-se a relevância do sistema, mas é igualmente imprescindível a identificação dos diversos desafios e falhas identificados.

É justamente diante das fragilidades técnicas e ideológicas que se revela a inconsistência da comparação entre o PIX e o Bitcoin. Sob aspecto econômico, convém destacar que o Bitcoin nasceu em consonância com política de escassez e matriz deflacionária, enquanto o DREX é conduzido sob a governança de agentes políticos, fator que dispensa maiores fundamentações acerca de potenciais riscos e ingerência.

A natureza global e distribuída do Bitcoin impede que qualquer pessoa exerça controle sobre seu funcionamento, ao passo que a moeda fiduciária (seja através do DREX, seja por meio de transferências via PIX) permanece vinculada à vontade humana e à abrangência territorial restrita própria dos sistemas tradicionais.

Por todas essas razões, permanece minha convicção de que as múltiplas falhas técnicas e ideológicas que permeiam o sistema financeiro elevam o Bitcoin ao posto de referência em termos de segurança, autonomia e inovação em transações digitais, não o inverso.

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