A violência representa uma ameaça constante, independentemente do âmbito em que ela acontece. A violência doméstica traz cicatrizes incuráveis para as vítimas, a violência de gênero não permite que as pessoas vivam da forma que escolheram e a violência escolar incide sobre a criança e o adolescente de modo que carregarão marcas para o resto de vida.
De todo modo, não importa o local ou com quem a violência é praticada, pois sempre trará lembranças ruins, incertezas e medo. O medo pode paralisar muitas pessoas e, em muitos casos, não permitir a denúncia ou a busca pelo socorro. Ademais, viver em um ambiente violento pode acarretar doenças, dentre elas está a depressão.
A pessoa que vive com depressão, por ter enfrentado diversos cenários violentos, pode apresentar baixo rendimento sobre as tarefas do dia a dia, nas relações interpessoais e principalmente em seu desenvolvimento pessoal, que necessita ser eivado por paz e harmonia.
A Constituição Federal de 1988 e as Convenções Internacionais preconizam o cenário de combate à violência, exigindo não apenas do Estado o respeito em prol das pessoas, mas também da sociedade em si. Ser diferente não é (nem deveria ser) sinônimo de exclusão ou de barreiras, no entanto, por outro lado, a sociedade possui forte influência do machismo e esse fenômeno faz que as pessoas não consigam interagir ou até mesmo colocar em prática um projeto de vida.
As pessoas transexuais têm direitos e garantias para uma vida harmônica em sociedade, porém, basta a pessoa usar uma roupa que se sinta bem e em conformidade com sua identidade para que os atos de violência comecem a surgir. Infelizmente, sobretudo em terras brasileiras, o transexual passa por preconceitos, violências que, em alguns casos, levam à morte.
Face a essas constatações, neste artigo, objetiva-se analisar o bullying transfóbico, além disso, deseja-se ensejar uma discussão que permita que a leitora e o leitor possam refletir sobre o assunto. Não se pode aceitar uma sociedade de justificativas, em que toda e qualquer espécie de violência seja justificável, a título de exemplo, a violência contra a mulher ocorre porque o gênero feminino é mais fraco; a violência contra transexuais é permitida porque a pessoa não estava se comportando conforme a sociedade machista estipula. Pois bem: chega! Precisa-se dar um basta em todo e qualquer episódio violento.
BULLYING TRANSFÓBICO
Globalmente, há uma variação considerável na visibilidade e significado da diversidade sexual e Identidade de gênero. As respostas individuais e sociais para tal diversidade variam enormemente – de hostilidade e perseguição francas em graus de aceitação e integração – e são refletidas na gama de estruturas legislativas e políticas que existem em diferentes países.1
A homofobia descreve o medo irracional do desejo e da conduta sexual do mesmo sexo, enquanto transfobia descreve o medo irracional daqueles cuja identidade de gênero e / ou comportamento são diferentes de seu sexo atribuído, ou percebido por outros como não conforme, ou como transgredindo as normas sociais.2
Importante destacar também o conceito de transfobia, que é o sentido de mal-estar ou até mesmo a repulsa em relação a pessoas que manifestam expressões não-normativas de identidade de gênero. Ainda, a transfobia envolve o sentimento de desgaste emocional para homens femininos e para mulheres masculinas, transexuais e transgêneros que não são aceitos na sociedade em função de suas diferenças.3
As instituições educacionais desempenham uma função social crucial em termos de comunicação cultural, conhecimentos, normas e valores, inclusive relativos à sexualidade e ao gênero. A homofobia e a transfobia estão tão profundamente arraigadas na maioria das sociedades que, a menos que especificamente abordadas, é provável que sejam refletidas (embora não de modo intencional) na comunicação que ocorre por meio de currículos formais e informais.4
Por fim, mesmo em sociedades, como Noruega e Suécia, que aceitam melhor a diversidade sexual e a identidade de gênero atípica e onde o bullying homofóbico é ativamente desencorajado, a heterossexualidade ainda tende a ser representada (por professores e alunos) como um padrão desejável, e a homofobia, embora com certo desânimo, não deixa de ser aceita.
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Referências
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1. CHAVES, Denise Raissa Lobato; SOUZA, Mauricio Rodrigues de. Bullying e preconceito: a atualidade da barbárie. Revista Brasileira de Educação, v. 23, 2018.
2. SENA, Michel Canuto et al. Mediação de conflito escolar como ferramenta de prevenção ao bullying: ação em saúde pública. Multitemas, v. 25, n. 60, p. 45-69, 2020.
3. DO REGO GOMES, António Carlos. Bullying transfóbico: experiências de discriminação e violência de pessoas trans em contexto escolar. 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade do Porto, 2014.
4. ROTHING, Åse; SVENDSEN, Stine Helena Bang. Homotolerance and heterosexuality as Norwegian values. Journal of LGBT Youth, v. 7, n. 2, p. 147-166, 2010.