Direito na Creator Economy

Direito na Creator Economy

uma-influenciadora-loira-bonita-testando-novos-produtos-na-camera.jpg

Na coluna de outubro, vou compartilhar algumas reflexões que venho fazendo. Meu comprometimento é com a informação! Mas confesso que trarei mais dúvidas do que certezas.

A creator economy já está consolidada como um setor que gira bilhões de dólares todos os anos, com tendência de crescimento ainda maior para os próximos anos. Desde o Poder Público, que utiliza influenciadores digitais para tentar passar uma mensagem mais popular, até grandes marcas que pretendem colar na imagem de criadores de conteúdo para transmitir seus valores ao público de determinados nichos.

Mas não se trata mais apenas de repaginar o antigo conceito de utilizar um garoto-propaganda, mas de novas formas de monetizar as redes sociais e a internet de maneira que, até pouco tempo, era impensada.

A creator economy utiliza de um conceito chamado por Jack Shafer em “Manual de Persuasão do FBI” de efeito primazia. Em resumo: uma mensagem passada por alguém em quem se confia tende a ser interpretada como verdadeira. Os influenciadores, por isso, criam em seus perfis nas redes sociais uma conexão com seus seguidores, e seus conteúdos fazem com que o público se sinta próximo daquele criador. Com isso, as mensagens que serão transmitidas serão recebidas com mais naturalidade e confiança pelos seguidores.

Por tudo isso e, ainda, pelo poder da hiperpersonalização da mensagem, que encontrará o perfil de consumidor ideal para as marcas, a creator economy tem conseguido desviar parte dos investimentos das mídias tradicionais.

Mas mais do que fazer publicidade de produtos, serviços ou empresas, muitos influenciadores digitais entenderam o canhão de comunicação que possuem e, por isso, passaram a não mais trabalhar para divulgar terceiros, mas criaram sua própria marca.

O sistema funciona para todo tipo de nicho: desde cosméticos até serviços financeiros, os influenciadores passaram a ter mais opções de monetizar sua comunicação de diversas maneiras.

Esse crescimento e a agregação de novas formas de monetização atraem diversos novos entrantes para a economia digital. Segundo dados da Horizon Databook, o Brasil é o país em que as plataformas de marketing de influência mais crescem na América Latina, e a taxa de crescimento até 2030 é de 29,8% (CAGR).

Junto com o crescimento do mercado, novos desafios jurídicos também surgem e, consequentemente, mais exigência recairá sobre os profissionais do direito que pretendem atuar para influenciadores digitais.

Não raramente, ainda, surgem políticos populistas com a brilhante ideia (contém ironia) de surfar no hype do assunto do momento e apresentam projetos de lei para tratar de assuntos que o ordenamento jurídico já regula a contento.

Esses fatores permitirão ao profissional capacitado atuar de maneira eficaz na defesa jurídica ou no consultivo para influenciadores digitais. Mas a pergunta que não quer calar é uma só: quem está realmente preparado para atuar neste nicho?

Aqui, um achismo próprio: pouquíssimas pessoas.

O mercado exige que o profissional seja multifacetado. Não basta ter amplo conhecimento em direito contratual, pois os influenciadores terão dúvidas sobre o que pode ou não ser dito em época de eleições. Também não é suficiente o conhecimento em direito penal: o influenciador precisará de confirmação jurídica sobre uma estratégia tributária indicada pelo seu contador.

E mais: o conhecimento jurídico também não basta. Para atender esse público, o profissional precisará entender profundamente como funciona a internet, as redes sociais e os algoritmos que dão suporte a cada plataforma. Ou vai o influenciador parar para explicar a razão técnica-algorítmica pela qual a estratégia jurídica proposta pode não funcionar? É necessário conhecer o que é o efeito Barbra Streisand para lidar com os riscos reputacionais, entender a diferença entre direito ao esquecimento e direito de delistagem, dentre tantos outros institutos próprios do direito digital.

A potencial alta rentabilidade que a nova área pode trazer a quem nela mergulhar terá exigência profissional proporcional. É uma área rica e fascinante, isso não há dúvidas. Mas quem estará disposto a pagar o preço de atuar nela? Essa é a minha dúvida e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade para quem está disposto a aproveitar.

Compartilhe nas Redes Sociais
Anúncio