Acadêmico imortal Júlio Moraes Oliveira
Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Dorense de Letras, Professor Denilson Victor Machado Teixeira, na pessoa de quem saúdo todos os confrades e confreiras aqui presentes.
Excelentíssimas autoridades aqui presentes as quais também saúdo desde já.
Minhas Senhoras, meus Senhores, meus familiares e amigos.
Como diria Machado de Assis, “entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante.”
Com essa frase, inicio meu curto discurso já antevendo sua brevidade necessária.
É com muita alegria e satisfação que assumo à partir de hoje, a cadeira de número 23 desta casa, pertencente a ninguém menos que Lamartine Babo, um dos maiores expoentes da música brasileira e que teve um papel de enorme relevância no nosso município, eternizando a nossa querida serra em versos musicais gravados e interpretados por ilustres nomes da música brasileira como Francisco Alves, Gal Costa, Maria Bethânia, Silvio Caldas e Altemar Dutra.
O patrono da cadeira que passo a ocupar foi o autor de um grande número de hinos dos times cariocas e de várias marchinhas de carnaval cantadas até os dias atuais e deixou um imenso legado para a cultura brasileira e esperancense. Em parceria com Ary Barroso compôs “No Rancho Fundo”, canção imortalizada pela dupla Chitãozinho e Xororó. Além disso tudo, protagonizou um dos episódios mais interessantes da música brasileira, retratado com extrema maestria pelo confrade Juarez Moreira, em seu livro “Caro Lalá”.
Nasceu no dia 10 de janeiro de 1904, no Rio de Janeiro e morreu na mesma cidade no dia 16 de junho de 1963, vítima de enfarte, deixando seu nome no rol dos grandes compositores deste país. Filho de Leopoldo de Azeredo Babo e Bernarda Preciosa Gonçalves de Azeredo Babo, Lamartine que tinha onze irmãos, foi um dos três filhos que chegou a idade adulta, bem como seu irmão Leopoldo e sua irmã Indiana, pois todos os outros morreram ainda na infância.
Se já não bastasse essa imensa honra de ocupar a cadeira de número 23 dessa insigne casa, ainda tenho como confrades, pessoas do mais alto gabarito, alguns ainda presentes e outros que já se foram.
Dentre esses ilustres confrades, gostaria de destacar o saudoso professor de direito das Faculdades Milton Campos, Dr. Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza, com quem tive a oportunidade de conviver na Faculdade, na Editora Del Rey e na varanda de sua casa, aqui na rua direita, por diversas vezes. Era sempre um prazer desfrutar de sua amizade e conhecimento.
Também gostaria de destacar dois grandes amigos de meu pai. O saudoso João Júlio de Faria e o nosso amigo Pedro Coimbra, ilustre professor da capital mineira que sempre exaltava esta cidade em suas aulas de geografia.
Apesar de não ter nascido em Boa Esperança, me considero um filho da terra, pois toda a minha família, de ambos os lados, pertencem a esta linda cidade. Ademais, vivi muito bem vivida, grande parte da minha infância e adolescência nessas terras.
Aqui fiz minhas maiores amizades, como a amizade com o saudoso Marcus Vinícius Pessoa Sartini, amigo e companheiro de banda e violão que por muitos anos me presenteou com a sua convivência. Foi com ele que em 1994, 1995 e 1996 ganhamos o extinto Troféu Sinvaldo Maia de Figueiredo no famoso Festival da Canção de Boa Esperança. Uma dessas músicas, “Teatro de Ilusões” foi regravada recentemente pela Banda Cassino Royale e foi selecionada para ser trilha sonora de um curta metragem denominado Agnus Dei, do esperancense Rodrigo de Oliveira Vilela.
Em 1998, em busca de novos caminhos, saí em direção a São Paulo capital, onde residi por um ano, mas foi em Belo Horizonte que me estabeleci profissionalmente. Graduei-me pelas Faculdades Milton Campos em 2005, especializei-me pela Fundação Getúlio Vargas e conclui meu mestrado em direito pela Universidade Fumec. Foi em Belo Horizonte também que iniciei minha carreira acadêmica como professor de direito, há 17 anos. Lecionei e ainda leciono em diversas faculdades e cursos pelo estado de Minas Gerais. Milito também na advocacia privada na capital e interior do Estado.
Sempre fui um leitor assíduo, influência direta de meu saudoso pai que mantinha uma enorme biblioteca dentro de casa e também o saudável hábito da leitura.
Em 2012, publiquei meu primeiro livro jurídico que foi um sucesso de vendas, me incentivando a continuar. Esse livro já foi citado em todos os tipos de trabalhos jurídicos possíveis, como dissertações, teses, artigos jurídicos, no Brasil e exterior, livros e também em decisões judiciais de vários tribunais brasileiros. Hoje, vários anos depois, já são 14 livros, mais de 90 artigos e capítulos de livros publicados nas mais diversas revistas.
O principal deles encontra-se em sua nona edição, indo para a décima em 2024, distribuído em mais de 300 universidades e faculdades do Brasil e do mundo, tendo alcançado a tiragem de milhares de exemplares já vendidos, sendo uma das principais obras de direito do consumidor da atualidade.
Infelizmente, nos últimos anos no país, vivemos momentos de incerteza. Passamos pela pior pandemia do século, até agora, passamos por momentos de obscurantismo e fanatismo político. Todos esses elementos foram potencializados pelos algoritmos das redes sociais que nos levaram a mais de 700 mil mortes e quase a um rompimento do Estado Democrático de Direito que culminou no lamentável dia 08 de janeiro.
Felizmente, nossa combalida democracia sobreviveu a esse ataque em decorrência da força das nossas instituições que provaram ser mais pujantes que os rompantes autoritários megalomaníacos.
Agora, precisamos conviver com a inteligência artificial, capaz de elaborar textos, discursos, artigos, trabalhos de conclusão de curso e roteiros. Seremos substituídos? Pior, seremos extintos por ela? As leis de Asimov irão prevalecer?
O cenário é incerto como sempre foi e uma instituição como a Academia Dorense de Letras é um farol nesse caminho soturno. Fundada em 1998, nos moldes da Academia Brasileira de Letras que por sua vez se baseou na Academia Francesa de Letras, nossa casa composta por 40 cadeiras, completa neste ano seu Jubileu de prata.
Boa Esperança é um município de ilustres personalidades. Aqui nasceu Rubem Alves que encantou o país com seus livros e também é a terra de Nelson Freire, um dos maiores pianistas do século.
Nessa terra, a cultura prospera como os grãos lançados em seu solo e demonstra não só sua vocação agropastoril como sua vertente artística manifestada em seus mais diversos aspectos. A lindíssima sede da Academia Dorense de Letras é um exemplo desse mar cultural em que está envolvido o nosso município. Por diversas vezes, deparei-me admirando essa casa de arquitetura peculiar e outros casarões ainda de pé em nossa centenária cidade.
Infelizmente, meu pai não está aqui presente para testemunhar esse momento tão importante da minha vida profissional, mas tenho certeza de que ele ficaria muito orgulhoso com mais essa conquista. Não obstante, para acalentar meu coração ainda tenho aqui presente a minha digníssima mãe me presenteando com sua companhia e seus cuidados. Ademais, hoje tenho uma família própria, com minha esposa, filha da terra e minha bonequinha de olhos verdes, Sofia.
Sinto-me feliz, por ter tido a oportunidade de conviver com meu pai por tantos anos, ele nos deixou aos 83 anos de idade. Homem íntegro foi um grande cidadão e político da cidade. Também me sinto feliz por ter conseguido prestar a ele as devidas homenagens inclusive o eternizando como uma das ruas da cidade que ele tanto amava e defendia.
Mas a vida é feita de ciclos e citando Cora Coralina, “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.
Como dizia a abalizada Clarice Lispector, “gosto daquilo que me desafia. O fácil nunca me interessou. Já o obviamente impossível sempre me atraiu”, e esse novo desafio de pertencer a esta casa é mais uma tarefa que assumo com muito prazer e distinção na qual me empenharei ao extremo para cumpri-la.
Espero estar a altura dos membros dessa confraria que me acompanharão nessa jornada em busca da divulgação da cultura em um país tão desprovido de incentivos culturais como o nosso. Mas é com base na coragem de pessoas altruístas que se constrói um país melhor para todos os seus cidadãos
Gostaria de terminar meu discurso com um trecho de um poema do eterno Fernando Pessoa:
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
Muito obrigado a todos!