Economia de Resistência: Pequenos negócios precisam de maior reconhecimento

Economia de Resistência: Pequenos negócios precisam de maior reconhecimento

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Não se engane: o capitalismo não quer diminuir as desigualdades, e isso acontece por uma simples razão: O capitalismo se alimenta das diferenças. Quando Mbembe  explica sobre Necropolítica, ele expõe como o poder é exercido para decidir quem vive e quem morre em sistemas sociais e econômicos. E essa escolha quase sempre tem como alvo , a população pobre, as pessoas negras e as pessoas lidas como dissidentes, sendo tratadas como descartáveis, como meras vidas sacrificadas em troca de lucro para um ínfimo, porém sempre sedento, grupo de privilegiados.

Empregos precarizados, condições insalubres de trabalho, violência estatal e acesso limitado a recursos essenciais são exemplos concretos de como essa política de morte é legitimada pelo sistema econômico. Para além do discurso sobre meritocracia, o capitalismo depende da manutenção dessas desigualdades, gerando um ciclo onde a concentração de riqueza e poder continua a beneficiar poucos à custa de muitos.

Porém, embora frequentemente ignorados por políticas públicas e análises econômicas, os pequenos negócios, berço de muitos empreendimentos desta população, têm um impacto significativo na economia e na sociedade. Eles geram empregos locais, promovem circulação financeira nas comunidades e oferecem bens e serviços adaptados às necessidades específicas dessa população. Segundo dados de organizações como o SEBRAE no Brasil, pequenas e médias empresas (PMEs) representam mais de 90% das empresas e empregam cerca de 70% da força de trabalho formal. Apesar disso, sua contribuição é subestimada em análises que privilegiam grandes corporações e investimentos estrangeiros.

Esse descaso está intrinsecamente ligado ao funcionamento do capitalismo globalizado, que favorece modelos de negócio centralizados e escaláveis em detrimento de iniciativas locais, muitas vezes vitais para existência de diversas localidades. Pequenos negócios são vistos como frágeis ou transitórios, mas, na verdade, representam a resistência de populações que lutam contra a exclusão econômica e o monopólio corporativo.

As pequenas comunidades e suas redes de suporte são verdadeiros laboratórios de inovação social e de resistência. Cooperativas, associações e mercados locais frequentemente desenvolvem soluções criativas para problemas que seriam ignorados por grandes empresas e governos. Em regiões periféricas, essas organizações muitas vezes fornecem acesso a crédito, treinamento e oportunidades de emprego que simplesmente não existem em sistemas formais.

Essas redes não apenas promovem a sobrevivência, mas também criam vínculos sociais que fortalecem o tecido comunitário. Em tempos de crise econômica ou social, como durante a pandemia de COVID-19, comunidades organizadas demonstraram gigantesca e incomparável resiliência ao mobilizar recursos locais e proteger seus membros, fato que manteve ativo tais negócios, em contramão à maré de fechamentos de estabelecimentos e falências vistos entre grandes negócios localizados em hipercentros e regiões nobre durante este período. Essa capacidade de adaptação e resposta direta contrasta com a burocracia ineficiente de sistemas centralizados, destacando o valor do microcosmo organizacional.

Um dos aspectos mais insidiosos do capitalismo é como ele transforma decisões individuais em mecanismos de perpetuação de suas desigualdades estruturais. Escolhas cotidianas, como onde comprar ou como investir, são frequentemente moldadas por forças invisíveis, como publicidade, normas sociais e acesso desigual à informação, deturpando a percepção da necessidade e da força de empreendimentos locais.

Quando consumidores optam por grandes marcas em vez de pequenos negócios locais, eles contribuem para a centralização de riqueza e o declínio das economias comunitárias. Da mesma forma, decisões políticas baseadas em interesses corporativos em vez de necessidades populares aprofundam a exclusão social e econômica. O desafio, portanto, é entender como nossas ações estão conectadas a sistemas maiores e como podemos usá-las para promover mudanças.

A resistência ao capitalismo opressor não é apenas uma questão de sobrevivência; é uma luta pela construção de um futuro mais justo e sustentável. Para que isso aconteça, é fundamental que as pessoas compreendam como suas escolhas impactam tanto a si mesmas quanto aos outros. Isso exige transparência nos sistemas econômicos, educação crítica e um esforço coletivo para desafiar as dinâmicas de opressão.

As comunidades têm o poder de liderar essa mudança, mas precisam de apoio institucional e de uma mobilização mais ampla para transformar suas iniciativas locais em movimentos globais. Carecem de mobilização, pois, pequenos negócios, redes comunitárias e economias locais dependem de reconhecimento como elementos essenciais de uma economia mais inclusiva e humana. Individualmente, cabe a cada um, no mínimo, perceber este jogo e tomar posse de suas próprias decisões. As informações e o entendimento de um sistema opressivo é responsabilidade primordialmente individual, antes de ser coletiva.

Em última análise, o capitalismo continuará a oprimir estes negócios enquanto as pessoas aceitarem suas condições como inevitáveis. Romper esse ciclo requer uma consciência coletiva de que outro sistema é possível, um sistema onde a vida não seja trocada por poder, e onde o progresso seja medido não pela acumulação de riqueza, mas pela qualidade de vida compartilhada por todos.

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