O etarismo, discriminação baseada na idade, é uma conduta tão opressora que afeta o modo como existimos no mundo, reprimindo impulsos naturais, respostas espontâneas, vontades e sonhos. Afeta também o nosso corpo, frequentemente amoldado para atender às expectativas sociais , a revelia de nossas escolhas e de ‘quem’ realmente somos.
É como se a longevidade nos encaminhasse a um ‘lugar’ de interdição, especialmente para o trabalho. A pressão social para maquiar os sinais de envelhecimento é tão intensa que reforça as visões negativas sobre a idade. Precisamos reconhecer que a diversidade de corpos não é livre em todos os espaços.
O etarismo é tão perverso e invasivo que desumaniza um processo que é tão natural como humano. Mais que isso, inibe a convivência intergeracional e estimula comportamentos capacitistas.
Profissionais longevos, em muitas organizações, são gradativamente afastados de seus postos em razão de imperativos gerencialistas justificadores (a exemplo da ‘oxigenação de práticas e de processos internos’ e ‘modernização’), decretando, sem qualquer respaldo, a sua incapacidade para adaptar-se ao ‘novo’, independentemente de evidências contrárias e dos ganhos típicos do maturidade.
O termo envelhecimento carrega imagens negativas que produzem uma generalização excludente, sendo usualmente associado à doenças degenerativas, desmotivação, descompromisso, desatualização, fadiga, inflexibilidade, perda de adaptabilidade e do domínio cognitivo, dificuldade de aprendizagem e mudança, dependência, fragilidade e inaptidão para determinados trabalhos. Senescência e senilidade são tomados como sinônimos em falas preconceituosas sobre situações nas quais essas condições não são sequer identificadas.
Dentre as espécies de etarismo, destaco aquela capacitista, porque ao travestir-se da aparência de cuidado, ganha uma sutileza perigosa que pode encaminhar mais facilmente à aceitação da velhice como um decreto de finitude profissional. Com efeito, o etarismo capacitista cerceia a expressão e desenvolvimento das pessoas longevas, alargando o raio de incidência da estigmatização.
A diversidade organizacional ainda se impõe como desafio, apesar do avanço e visibilidade da pauta. Não é incomum encontrarmos espaços corporativos ‘homogêneos’, considerando os clássicos marcadores sociais, a exemplo da idade, gênero ,raça e classe social.