A violência escolar pode estar ligada à baixa autoestima, altos índices de ansiedade, desamparo e depressão. Portanto, é preciso analisar os dois lados desse caso, pois os motivos que levam os agressores a cometerem atos agressivos não pode simplesmente ser tolerado.
Verdadeiramente, o bullying escolar traz diversas consequências negativas para a vítima. Nesse sentido, se as escolas tratarem o problema violência como algo comum do cotidiano, a tendência será um ciclo cada vez mais violento. Por isso, deve-se exigir formulações de políticas públicas específicas em prol do problema.
Existem os fatores que podem justificar a prática de bullying, dentre eles: (I) a intencionalidade do comportamento, ou seja, o objetivo de provocar mal-estar e ganhar controle sobre uma pessoa; (II) a repetição de comportamentos, visando causar malefícios a outrem; (III) dinâmica de controle, em outras linhas, os agressores veem suas vítimas como um alvo fácil; (IV) o comportamento agressivo não é resultado de uma simples provocação (HUMPEL; BENTO; MADABA, 2019).
O estudo de Silva et al. (2020) revelou que, nas ocorrências de bullying, o agressor sempre está em maior evidência. Percebeu-se que, independentemente de ser vítima ou agressor, o bullying sempre traz consequências negativas. Uma delas é o isolamento social que a violência pode trazer em função das reiteradas cenas de humilhação e abuso de poder em ambiente escolar. Nesse cenário, notou-se que as escolas precisam adotar em conjunto com as famílias medidas de prevenção e acompanhamento para os casos de violência escolar.
Por outro lado, apesar de alguns alunos possuírem uma boa convivência familiar, são deparados no ambiente escolar com as diversas espécies de violência, desde o bullying até lesões corporais. Como sobreviver com perseguições e murros? O desenvolvimento humano depende de equilíbrio, da boa convivência e de empatia dos demais. Nesse sentido, o ato de colocar-se no lugar do outro pode ser uma tarefa difícil ou quase impossível para o agressor que atua na necessidade de “marcar território”.
Assim, a delegação não pode estar direcionada apenas à escola, mas aos pais que precisam dar maior atenção aos sinais que a criança ou o adolescente apresenta em casa. Um dos sinais mais recorrentes é o medo e a baixa produtividade, os quais resultam em reprovações ou até mesmo desistência dos estudos em fases iniciais.
Conforme Zequinão et al. (2020), as pessoas de sexo masculino possuem maior incidência na prática de bullying em ambiente escolar. Diversos fatores podem ser levados em consideração para essa qualificadora da prática. Uma delas é a cultura do machismo presente nas casas e nas escolas, em que o gênero masculino, por questões culturais, possui necessidade de decisão, de domínio, de chefia, provedor e dominador nas relações entre homens e mulheres. Do mesmo modo, pessoas do sexo masculino geralmente resolvem os seus conflitos com o uso de violência e opressão, como se o diálogo e outras ferramentas mediadores não existissem e todas as possibilidades de pacificação resultassem em casos de violência.
Dessa feita, não se pode imaginar as escolas utilizando ferramentas unilaterais e inflexíveis, pois as práticas devem ser baseadas nas diferentes realidades sociais de cada região. Portanto, para que a instituição de ensino alcance o patamar cidadão e democrático, faz-se necessário ir além da prática pedagógica, investir em técnicas interdisciplinares e mecanismos de mediações de conflitos, com o apoio da sociedade e de profissionais habilitados no campo da Psicologia, Direito e Medicina, possibilitando, assim, a identificação e encaminhamento dos casos de conflitos que resultam em violência.
Para isso, existe a possibilidade de uma rede extensiva no atendimento ao bullying. A partir do estudo de Monteiro et al. (2020), observou-se que as pessoas que sofrem essa violência possuem disposição à depressão, ainda, a vitimização pode resultar em sequelas leves, casos de internações ou depressão. No mesmo estudo, são analisados os mecanismos que podem proteger a vítima de bullying, dentre eles, a manutenção das relações interpessoais, com acesso a uma rede extensiva interdisciplinar com a intenção de auxiliar as vítimas.
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Referências
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HUMPEL, Paola Raffaella Arabbi; BENTO, Kelly Cristina Menezes; MADABA, Celestino Manuel. Bullying vs: educação escolar inclusiva. Revista Psicopedagogia, v. 36, n. 111, p. 378-390, 2019.
MONTEIRO, Renan Pereira et al. Valores sociais atenuam sintomas depressivos em vítimas de bullying. Psico, v. 51, n. 1, p. e29342-e29342, 2020.
SILVA, Georgia Rodrigues Reis et al. Prevalence and factors associated with bullying: differences between the roles of bullies and victims of bullying. Jornal de pediatria, v. 96, p. 693-701, 2020.
ZEQUINÃO, Marcela Almeida et al. Physical punishment at home and grade retention related to bullying. Journal of Human Growth and Development, v. 30, n. 3, p. 434-442, 2020.