Dedico este texto à memória de Pedro Henrique. A morte de um adolescente negro, periférico e LGBT+ não parou o Brasil. Não tensionou grupos que se dizem paladinos da proteção das crianças e adolescentes, bem como não mobilizou debates aprofundados sobre como as instituições de ensino — a partir da reprodução de valores político-sociais que extrapolam os seus muros — atuam na precarização generalizada de todos os sujeitos posicionados à distância das normas que também são ratificadas epistêmica, política, estética e culturalmente nesses espaços.
Se compreendemos a comoção como uma experiência política, isto é, como a percepção da perda de uma vida, ao nos defrontarmos com uma realidade passiva e silenciosa diante da brutalidade dessa cena, reconhecemos que nem todas as vidas são agraciadas pela proteção, cuidado ético e comoção. Nessa direção, é possível observar que o racismo, a ciseterobrutalidade, o classismo e os demais artefatos de degradação das presenças situadas nos limites da precariedade, de forma generalizada, impedem que um corpo seja reconhecido, validado, protegido e digno de luto.
Pedro Henrique não sofreu bullying. O abreviamento de sua vida foi o resultado de uma execução simbólica, concreta e sistêmica, orquestrada pelas normas racistas, classistas e ciseterobrutais que incidem contra todos os sujeitos posicionados como dissidentes. Nas mensagens que ele deixou para a sua família, o jovem de 14 anos relata as práticas reiteradas de humilhação que sofria no interior da escola. Pedro Henrique não encurtou a sua vida, mas foi executado pelos braços brutais do racismo e demais estratégias normativas que sustentam uma política de morte.