Abrindo mais uma rodada da nossa coluna, optei por pausar os assuntos que já estavam em minha cabeça para um tema extraordinário. Acompanhando as notícias sobre a guerra na Ucrânia, me deparei com o posicionamento das marcas, e até de grupos de pessoas, frente ao conflito.
Sem entrar no mérito sobre a guerra, me permiti escrever sobre determinados impactos econômicos deste evento. Além do amplamente divulgado boicote econômico imposto pelo Ocidente, o presidente Vladimir Putin deve estar acompanhando a formação de um boicote internacional à vodka russa. Sendo este um dos produtos mais emblemáticos do país, o impacto econômico do posicionamento internacional é mais um ponto de atenção para a economia Rússia.
A lista de empresas que deixaram a Rússia vem crescendo diariamente. Algumas delas, como as gigantes do setor de petróleo, fazem eco ao já mencionado cerco imposto pelo Ocidente por meio de sanções à economia russa, à medida que retiram suas participações em negócios locais. Outras empresas tomaram medidas menos enérgicas, optando por suspender as operações, à espera da resolução do conflito.
É nítida a urgência no posicionamento das marcas, especialmente das petroleiras e montadoras, em se descolar da Rússia, declarando forte apoio aos combatentes ucranianos e publicando as mais variadas formas de sanções. Como exemplo, cito a ExxonMobil, que declarou que vai deixar seu último projeto de petróleo e gás na Rússia, sendo que não investirá em novos empreendimentos no país, que é conhecido por suas reservas petroleiras.
Na contramão, as empresas de vodka tentam a todo custo se desvincular da imagem da Rússia. Algumas marcas de vodka estão lutando para lembrar aos consumidores que não são fabricadas em território russo. A vodka Stoli (antiga Stolichnaya), que foi originalmente fundada na União Soviética, mas não é mais produzida na Rússia, denunciou a invasão em um comunicado colocado na página inicial de seu site:1
“O Grupo Stoli tem uma longa história de combate à opressão do regime russo. Condenamos inequivocamente a ação militar na Ucrânia e apoiamos o povo ucraniano”, disse o comunicado.
O fundador da empresa, Yuri Shefler, observou que “viveu pessoalmente a perseguição das autoridades russas” depois que a Suprema Corte da Rússia proibiu a venda da vodka em 2001.”
Ainda assim, a marca de vodka não será vendida em lojas de bebidas estatais em New Hampshire nos Estados Unidos, segundo EJ Powers, porta-voz da Comissão de Bebidas de New Hampshire. Essa é a mesma situação da vodka Smirnoff, fabricada pela gigante multinacional britânica Diageo.
Segundo Powers, produtos que usam as palavras ‘Rússia’ ou ‘Russo’ no nome da marca, publicidade ou descrição do produto – juntamente com produtos que retratam a arquitetura russa ou símbolos coloquialmente associados à Rússia – são todos considerados produtos de marca russa e foram removidos sob a Ordem Executiva do Governador.
Ainda é cedo para calcular os impactos das proibições anunciadas contra as marcas de vodka associadas à Rússia. No entanto, as medidas parecem ser apenas simbólicas, ao menos nos Estados Unidos. Isso porque as marcas de vodka produzidas na Rússia representam pouco mais de 1% do valor total das importações da bebida para os Estados Unidos, segundo dados do Conselho de Bebidas Destiladas do país.2
Apesar do ato simbólico, o forte posicionamento das marcas dos mais variados setores, com especial apelo ao mercado de vodka, demonstra o quanto a guerra afeta negativamente os negócios. Existem diversos exemplos de impactos negativos à imagem das marcas, seja com influenciadores, atletas, programas, contudo, nenhum causa efeitos tão nefastos quanto a guerra. Além de frear a retomada da economia global pós pandemia, a guerra na Ucrânia pode representar o aumento em diversos commodities, afetando a economia em escala global.
Finalizando este tema de amplo interesse, esta coluna retomará o âmbito esportivo, como prometido. Nos vemos no próximo encontro.
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Adriano Palaoro Mesquita Carneiro
Referências
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1. STOLI. Home. 2022. Disponível em: https://bit.ly/3KavFcw. Acesso em 01 mar. 2022.
2. WHITLEY, Angus. Russia vodka boycott goes global as stores from U.S to New Zealand yank it from shelves. Fortune. 2022. Disponível em https://bit.ly/36P1Qji. Acesso em 01 mar. 2022.