Cada vez mais as pessoas se utilizam da internet e das redes sociais em seu cotidiano, essa é uma verdade incontestável, e que promete se intensificar nos anos vindouros. Pensar em uma vida sem a presença de tais tecnologias demonstra-se uma tarefa difícil. Isso pois elas se inseriram no dia a dia de modo intenso, seja por meio da utilização para fins recreativos, seja para aquisição de conhecimento, interlocução, ou mesmo distribuição de notícias de forma descentralizada.1
Inicialmente as pessoas tão somente se relacionavam em ambiente digital com as pessoas que já conheciam, todavia, com o decurso do tempo viu-se a possibilidade de maximizar o número de conexões na rede, criar novos contatos e assim conhecer novas pessoas. Esse foi o primeiro passo em um longo, mas célere, processo de remodelação do ambiente das redes sociais.
Na atual fase desse processo as pessoas se conectam com pessoas desconhecidas pelo simples ato de se conectar, adicionam pessoas, fazem “amigos”, adquirem seguidores que sequer sabem seu nome ou quem a pessoa verdadeiramente é.2 Nesse caótico cenário de multiplicação desacerbada de contatos nas redes sociais emerge a problemática da espetacularização da vida privada.
Cada pessoa, na crença de ser a protagonista de sua rede social, compartilha informações, dados, fotos, áudios e mídias diversas com os demais internautas, sem qualquer filtro. Fotos de um almoço em família, o anúncio de uma contratação, um certificado de um curso que concluiu foram as primeiras coisas a serem compartilhadas, mas hoje se vê o absurdo, fotos de casais em motéis, exposição extrema do corpo em poses sensualizadas e demais aspectos relativos tão somente à vida privada inundam as redes sociais.
As pessoas passam a se apresentar nas redes sociais como um mero produto de entretenimento. Pretendem passar uma “imagem meramente ilustrativa”, que em nada se assemelha com a realidade e por isso motivo sofrem significativamente com os efeitos advindos da utilização incorreta das redes sociais, como a depressão e a ansiedade.
O uso de mídias sociais, como Instagram, Facebook, Twitter e YouTube, é um hábito relativamente recente, de modo que ainda tenta-se compreender os efeitos desta nova forma de interação social em diferentes populações. O aumento no tempo dispensado utilizando as redes sociais relaciona-se ao sentimento de isolamento do mundo real, o que pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais.3
Para além dos efeitos negativos supramencionados pode-se citar o próprio deslocamento da realidade. A pessoa se desconecta de sua vida e passa, tão somente, a viver seu perfil, seu avatar digital. Os momentos vividos são deixados de lado uma vez que somente a foto ou o vídeo realmente importam.
Nessa cenário o próprio conceito de privacidade e intimidade são ressignificados pelas novas gerações, as quais possuem dificuldade em separar o privado do público. Cada vez mais se expõem aspectos íntimos com o mero intuito de angariar seguidores e conseguir likes nas redes sociais. No caminho para obtenção de algum reconhecimento muitas pessoas recorrem a exposição exacerbada de sua imagem ou de seu corpo, se expõem a situações vexatórias ou humilhantes, praticam condutas reprovadas socialmente, sempre compartilhando nas redes.
Faz-se necessário, portanto, repensar os limites auto exposição e da exposição de terceiros nas redes sociais, por meio de condutas como o sharenting.4 De modo a guarnecer as futuras gerações com conhecimento e discernimento sobre o que postar e como postar.
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Clayton Douglas Pereira Guimarães
Glayder Daywerth Pereira Guimarães
Referências
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1. WEISS, Marcos César. Sociedade sensoriada: a sociedade da transformação digital. Cidade e ambiente. Estud. av. 33 (95), 2019 Disponível em: https://bit.ly/3IEpNIM. Acesso em: 07 dez. 2021.
2. BEJARANO, Marcos Morais; FERRAZ, Chrystiano Gomes. Da desconexão à conexão nos ambientes digitais: Acenos teológico-pastorais do Papa Francisco para a evangelização da cultura digital. Revista Teocomunicação. v. 31, n. 1, 2021, p. 1-12. Disponível em: https://bit.ly/3IAdNb4. Acesso em: 10 dez. 2021.
3. ABJAUDE, Samir Antonio Rodrigues; PEREIRA, Lucas Borges; ZANETTI, Maria Olívia Barboza; PEREIRA, Leonardo Régis Leira. Como as mídias sociais influenciam na saúde mental? SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) v. 16 n. 1 Ribeirão Preto jan./mar. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3DynB1q. Acesso em: 07 dez. 2021.
4. GUIMARÃES, Clayton Douglas Pereira; GUIMARÃES, Glayder Daywerth Pereira. Sharenting, (over)sharenting e autoridade parental. Magis – Portal Jurídico. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3Ixxhx7. Acesso em: 07 dez. 2021.