O concurso para Delegado de São Paulo historicamente exige, que o candidato se apresente trajado de modo compatível com o decoro da função de natureza jurídica essencial, assim entendido como o terno e gravata para o homem e o conciliável, em termos sociais, para a mulher, sob pena de ser eliminado do concurso.
Todavia, o uso de trajes sociais em um país tropical, especialmente durante o verão, muitas vezes revela uma incoerência evidente que vai além das questões estéticas. A imposição de vestimentas formais em climas quentes pode acarretar sérios riscos à saúde. Em um cenário onde as temperaturas elevadas são a norma, vestir-se com roupas sociais pesadas e pouco respiráveis pode levar a uma série de problemas, desde desconforto e exaustão até complicações mais sérias, como insolação e desidratação. A falta de adequação entre as vestimentas e o clima local não apenas compromete o bem-estar físico, mas também destaca a desconexão entre as normas sociais e as necessidades ambientais. Nesse contexto, repensar os códigos de vestimenta, adaptando-os às condições climáticas, não apenas promoveria o conforto e a saúde, mas também refletiria uma abordagem mais sensata e coerente em relação ao ambiente em que vivemos.
A aplicação da prova do concurso de Delegado de São Paulo de 2023 ocorreu em várias faculdades, dentre as quais, a Faculdade Integrada Campos Salles, e Faculdade São Judas Tadeu. Os candidatos revelaram que a primeira não contava com ar-condicionado, e os ventiladores eram insuficientes para refrescar o ambiente em face do calor, e do traje forense exigido; em relação a segunda, embora contasse com ar-condicionado, foi relatado que houveram salas em que o aparelho não funcionava, ensejando a mesma problemática. Houveram casos inclusive que candidatos que passaram mal em decorrência do calor.
Nesse sentido, Bruno Zampier destaca que:
Eu vou compartilhar agora a indignação de vários candidatos, que também é a minha. Vários concursos de São Paulo, como a gente teve hoje o concurso de delegado, exigem desde a primeira fase do concurso, que os candidatos usem trajes forenses, trajes sociais. E isso, hoje, mais uma vez foi exigido para Delegado de São Paulo, é da tradição lá do estado, do concurso da magistratura, Ministério Público, procuradorias e também da carreira jurídica policial de delegado. Pois bem, hoje eu estive na porta da prova, e vários candidatos também me reportaram isso, que a Vunesp e a Polícia Civil não estavam fazendo fiscalização a respeito desse traje, em alguns locais de prova até anotaram nome de alunos que não estavam devidamente trajados. Bom, eu sempre disse, sempre afirmei, que isso é uma tremeda bobagem, que se faz no estado de São Paulo, algo completamente anacrônico, fora de seu tempo. Em 2023, no verão brasileiro, você exigir que homem faça prova de terno e gravata, e mulheres com roupas similares, é um absurdo, o candidato deve estar focado na resolução das questões, e de preferência com uma roupa que lhe proporcione conforto. Então, fica aqui nossa indignação, pela incoerência, para que exigir isso no edital, se na prática não vai ser cobrado. Ontem eu tive aluno que saiu do nosso evento para comprar terno e gravata porque tinha esquecido na sua cidade, tinha menina preocupada se a sandália que trouxe se encaixava ou não no conceito de trajes forenses. Vamos repensar isso aí, em prol de um concurso mais justo, e de mais respeito aos candidatos.
Espera-se que a Vunesp e a Polícia Civil de São Paulo repensem essa exigência em concurso futuros, pois é um exigência desnecessária e despropositada. O concurso público deveria avaliar o candidato por intermédio da resolução de questões, e não por intermédio de uma prova de resistência ao calor. Tal crítica se estende também a demais instituições como magistratura, Ministério Público, procuradorias que adotam a mesma prática.