Educação como direito humano – uma perspectiva revolucionária – Parte II

Educação como direito humano – uma perspectiva revolucionária – Parte II

No texto anterior, coloquei em discussão como a educação e mais propriamente a metodologia de ensino, prezada pela hierarquia entre professor e aluno e pela simples informação de conteúdo leva ao obscurantismo em detrimento do aprendizado consciente e criativo.

Mudar essa lógica no mundo de hoje faz-se cada vez mais imprescindível, à medida que o conhecimento, nunca antes na história humana, esteve tão difundido e fragmentado quanto agora.

Permite-se dizer, com olhar atento a contemporaneidade, sobretudo a partir do início dos anos 2000, que a internet, a conexão de redes e pessoas de forma virtual, potencializou e em certa medida igualou o acesso ao conhecimento. Válido destacar que foi ampliado tão somente o acesso, pois em se tratando de como esse conhecimento é assimilado a dinâmica continua a mesma.

A célebre frase de Francis Bacon, “conhecimento é poder” se faz cada vez mais vigorosa, uma vez que hoje tem-se em conta muito mais os dados, e em especial os dados pessoas e de personalidade dos indivíduos do que a ciência, a filosofia  e a história.

A educação nesse contexto, vem, ainda que de forma gradual, perdendo espaço para o mundo dos aplicativos, dos youtubers, dos influencers, do conteúdo viciante e constantemente perpetuador de desinformação verificado principalmente nas redes sociais como facebook, instagram, sem falar da máquina de entretenimento barato que é o tik tok.

Entretanto, ao mesmo tempo em que este ambiente digital produz lixo virtual, também é possibilitador da aquisição de saber afastada das amarras estudantis. Basta lançar uma palavra no buscador do google, ou pesquisar ao no youtube, e pronto, como num passe de mágica se alcança um conteúdo até pouco tempo limitado as salas de aula.

É como se a internet tivesse aberto uma espécie de portal do saber, mas muito difuso, sem controle e sem filtros. Contudo, basta ter um pouco de conteúdo, ou ser um auto de dada, para percorrer o universo de conhecimento existente nesse espaço digital viabilizado pela internet.

Há um tempo atrás, me deparei pensando acerca da possibilidade de não mais existir da instituição escola. Num mundo em que se pode conhecer, saber e aprender sobre tudo, porque manter o conhecimento aprisionado num antro físico? Acredito que não haja uma resposta certeira quanto ao destino dessa instituição, todavia, ao olharmos para o modelo atual de sociedade, especialmente em se tratando de Brasil, é de se dizer que a escola e a educação como se hoje é concebida, tende a perpetuar-se.

Ante uma sociedade que preserva em seu seio traços que alimentam a desigualdade e manifestam claramente a necessidade de se manter o conhecimento reservado a poucos, a internet bem como a profusão de conteúdo que esta possibilita ser acessado, passa a ser tão somente o reflexo do que já está posto. Por mais que inventiva e inovadora que está tecnologia possa parecer, os mesmos problemas do espaço físico estão se impregnando nas redes e nos usuários do meio digital. Ao contrário do que primordialmente se buscou, percebe-se um efeito de divisão, de ideologização desse meio.

O conhecimento ao que tudo indica passou a ser individualizado, cada indivíduo possui uma verdade, que está simultaneamente vinculada ao uma forma padronizada e emburrecida de pensar e agir. Cada qual acredita e interpreta as coisas do mundo, os temas e as questões a sua maneira, numa tendência quase que irrefreada de negação do conhecimento até estão construído, vital para novas descobertas e novos saberes.

Isso tornou-se notório com o a pandemia do novo coronavírus, principalmente ao se levar em consideração o crescente aumento de negacionistas. Negacionistas que já se apresentavam desde antes, em relação a questões já há muito superadas pela ciência, como o geocentrismo e o aquecimento global. A negação dos fatos, assim como a covid-19, vem se alastrando e gerando um limbo de incertezas, ou melhor dizendo de certezas absolutas.

Nesse cenário, insta reiterar a necessidade de mudança, não só do sistema educacional anteriormente e aqui exposto, uma vez que só a mediante uma nova dinâmica, qual seja, mais inclusiva, mais horizontal e mais real, isto é, teoria de fato associada a prática é que será possível uma nova realidade em que o conhecimento é mais valioso e produtivo dos bens. Um conhecimento que não e faça acrescente pela erudição mas pela aplicabilidade no dia a dia, na vida de cada e indivíduo e da comunidade da qual faz parte.

Prima-se aqui então por uma transmissão de saber que vá desde o fazer o próprio alimento até os livros de filosofia, afinal tudo se encaixa e viabiliza uma cultura ética voltada ao ser só e ao ser em conjunto.

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Felipe Gomes Carvalho

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