Muito se ouve falar em sociedade de consumo ou sociedade de hiperconsumo, seja nos jornais, entrevistas, artigos, ou até mesmo em posts nas redes sociais, os termos são utilizados de forma generalizada com o condão de exprimir a ideia de que a sociedade consume bens e serviços de modo desenfreado. O conceito não se encontra incorreto, todavia, claramente é incompleto e não explicita as características de cada modelo de sociedade e suas especificidades.
O termo “Sociedade de Consumo” é criado em 1920 e torna-se uma expressão amplamente utilizada entre os anos 1950 e 1960. Há de se destacar que ainda hoje é um vocábulo utilizado pelas mais diversas pessoas. 1
A sociedade de consumo pode ser descrita como um modelo no qual o desenvolvimento industrial encontra-se em uma fase avançada de desenvolvimento, de modo que a criação de bens e serviços torna-se mais célere, facilita e descomplexificada. Em um cenário de desenvolvimento industrial elevado o consumo de bens e serviços aumenta em uma proporção similar, na medida em que a oferta cresce e o preço diminui.
Há de se destacar que a sociedade de consumo só exsurge no contexto de uma sociedade de mercado, marcada pelo capitalismo e pela livre circulação de capitais, produtos e pessoas, isso pois as intervenções estatais na produção e comercialização de bens e serviços em regimes socialistas ou comunistas minam a possibilidade de desenvolvimento orgânico do mercado e o crescimento da oferta.
Nessa linha de intelecção, há de se compreender que a sociedade de consumo é fruto um fenômeno econômico, social e histórico, posto que somente a partir da revolução industrial os modelos de produção industrial surgiram, possibilitando, de tal modo, a criação massiva de bens.
Segundo explica Gilles Lipovetsky o conceito de consumo se altera de modo significativo no contexto da sociedade de consumo, uma vez que atribui-se aos consumidores e aos bens e serviços características específicas que permitem a criação de um laço, uma relação entre pessoa e coisa.2 Desse modo, marcas, logos, nomes de empresas, deixam de representar apenas um aspecto de distinção de determinado produto ou serviço e se transfiguram um símbolos, totens que conferem prestígio, status, que passam a qualificar o sujeito e sua posição na sociedade.3
Na sociedade de consumo o ato de consumir precede a própria existência do ser, consumir se transfigura de mero ato em um modo de se exercer a própria personalidade. O consumo passa a se estabelecer como uma das principais atividades das pessoas, as quais, por sua vez, também se convertem em mercadorias.
Segundo explica Zygmunt Bauman o sujeito se converte em uma mercadoria na sociedade de consumo. O sujeito, para possuir sua subjetividade, deve agir como uma mercadoria vendável, deve se destacar, exprimir seus qualidades e esconder seus defeitos. Um ciclo perpétuo de objetificação da pessoa toma início e gradualmente se intensifica, de tal modo que a transformação da pessoa em coisa, em mercadoria, torna-se a principal característica da sociedade de consumo, ainda que de forma velada e encoberta.3
As pessoas na busca pelo “seu lugar ao sol” agem como se produtos fossem, transformam seus perfis nas redes sociais em próprios anúncios publicitários os quais buscam vender uma imagem, uma ideia, muitas vezes uma mentira. Desse modo, tudo está valendo desde que que o produto ou a pessoa seja vendável.
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Clayton Douglas Pereira Guimarães
Glayder Daywerth Pereira Guimarães
Referências
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1. LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 14.
2. LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
3. NOVELLI, José Gaspar Nayme. Confiança Interpessoal na sociedade de Consumo: a Perspectiva Gerencial. 2004. 242 f. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Universidade de São Paulo. São Paulo, São Paulo.
4. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, p. 20.