Lives NPC e a fetichização de corpos femininos

O que é NPC?

NPC é a sigla para “Non-Player Character”, que em português significa “Personagem Não Jogável”. Em contextos de jogos de vídeo, RPGs (Role-Playing Games) e jogos de computador, um NPC é um personagem controlado pelo sistema ou pelo jogo em si, em oposição aos personagens controlados pelo jogador. Esses personagens desempenham vários papéis dentro do jogo, como fornecer informações, dar missões, interagir com o jogador ou até mesmo servir como oponentes controlados pelo computador. NPCs são uma parte fundamental da experiência de jogo, pois ajudam a criar um mundo virtual mais rico e envolvente, além de contribuir para o enredo e a progressão do jogo.

Lives NPC tomaram conta do TikTok

PinkDoll, também conhecida como Fehda Sinon, uma criadora de conteúdo no TikTok, é conhEcida como precursora das lives NPC. Um dia em que fazia um transmissão ao vivo, sua conexão caiu, e internautas perceberam a semelhança dos travamentos da live com um NPC.

A partir daí as lives NPC se popularizaram, se disseminando primeiramente nos Estados Unidos, mas logo a onda foi importada para o Brasil. Em território pátrio um dos primeiros produtores de conteúdo a realizar as lives foi Felca, a partir da percepção da difusão que a trend teve nos Estados Unidos, mas logo o influenciador se posicionou contrariamente a prática pelo seu conteúdo fútil.

A onda de lives e vídeos NPCs no TikTok, que remetem a Non Playable Character – em tradução literal para o português Personagem Não Jogável –, vem gerando diversas críticas em relação ao teor do conteúdo. O tema se espalhou pela possibilidade de os criadores remunerarem os vídeos. No entanto, ante a repercussão negativa, o TikTok começou a notificar usuários da plataforma sobre as NPCs. Muitos deles postaram o aviso que receberam com advertências. A plataforma vai restringir “vídeo repetitivo, não autêntico e degradante para induzir os espectadores a enviarem recompensas”. A interação em troca de presentes tem gerado até R$ 50 mil por dia para alguns tiktokers, no entanto, a prática tem sido considerada nociva e degradante por especialistas.²

A fetichização dos corpos femininos nas lives NPC

A fetichização dos corpos femininos é uma questão complexa e controversa que tem sido objeto de discussão em diversos contextos sociais e culturais. Ela refere-se à tendência de reduzir as mulheres a objetos de desejo sexual, desconsiderando sua individualidade, dignidade e autonomia. Essa objetificação ocorre quando os corpos femininos são exageradamente sexualizados, muitas vezes de forma irrealista e prejudicial, através de imagens, representações midiáticas e interações sociais. Essa prática não apenas perpetua estereótipos prejudiciais de gênero, mas também pode ter sérias consequências para a saúde mental e emocional das mulheres, contribuindo para a desigualdade de gênero e a violência de gênero. Portanto, a fetichização dos corpos femininos é um problema que merece uma reflexão profunda e contínua, bem como a promoção de uma cultura que respeite e valorize a diversidade e a igualdade de gênero.

Muita gente tem apontado para a ‘fetichização’ de corpos femininos e sexualização de meninas nas live de NPC, especialmente por conta do controle sobre o corpo do outro. Da minha perspectiva, outro ponto de atenção é o ecossistema do mercado de criadores de conteúdo e os aspectos de monetização. Quais são os limites para monetizar-se a si mesmo, numa lógica do ‘sujeito como mercadoria’? Parece que estamos testemunhando novos acordos morais em jogo, bastante alinhados às demandas das plataformas e às promessas de dinheiro fácil em um momento em que o país se recupera de diversas crises econômicas”, destaca Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital do Com+, núcleo de pesquisa de comunicação e mídias digitais da USP.¹

É importante a conscientização de fenômenos como a fetichização dos corpos femininos, pois são práticas como essa que influenciam para que ocorra situações graves conta as mulheres como Importunação Sexual, Assédio Sexual e Assédio Moral no trabalho.