Superatletas e sua relação com as marcas (Parte 1)

Superatletas e sua relação com as marcas (Parte 1)

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Estamos em nosso quinto encontro e, após uma pausa para falar sobre a guerra na Ucrânia, é hora de retomar a pauta esportiva no mundo de marcas.

Este colunista é apaixonado por esportes desde que tem memória sobre a sua própria vida. O esporte move e fascina multidões desde os tempos antigos. Com o passar dos anos os atletas assumiram maior protagonismo, passando a mover e fascinar multidões. Todos conhecemos alguém que acompanha um determinado esporte por conta de sua admiração a determinado atleta.

Como dito anteriormente nesta coluna, eventos esportivos costumam movimentar grandes quantias financeiras e mexem com a paixão dos envolvidos. Na época dourada do futebol brasileiro, o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé, chegou a parar uma guerra na África.

O fanatismo por determinados atletas não é de hoje, mas as últimas décadas proporcionaram uma mudança importante no rumo da carreira dos atletas. Pelé, e os demais jogadores de sua geração, não ficaram multimilionários jogando futebol ou assinando grandes contratos de patrocínio.

Importante ressaltar que em outros países os atletas eram mais bem pagos pela sua contrib00uição ao esporte e pela exposição na mídia. Os atletas estadunidenses foram melhor remunerados do que os superatletas do futebol ao longo das últimas décadas.

Seguindo essa linha, em algum momento da história, as marcas perceberam o quanto os fãs de esportes amam seus heróis esportivos e estão dispostos a investir muito dinheiro para colocar sua marca na frente desses fãs torcedores. Especialmente aqueles que têm uma ampla base de apelo – além de suas cidades locais. Nesse contexto, a parceria entre a fabricante de calçados e itens do vestuário esportivo norte-americana Nike com a lenda do basquete Michael Jordan é fascinante em muitos aspectos.

O maior jogador de basquete de todos os tempos, Michael Jordan, apelidado de Air Jordan, teve sua linha de calçados internacionalmente famosa lançada como franquia em 1984. De acordo com seu agente David Falk, a então iniciante Nike esperava vender calçados esportivos no valor de US$ 3 milhões até o final dos primeiros quatro anos de contrato, mas passou a ganhar exorbitantes US$ 126 milhões já no primeiro ano. O sucesso fenomenal da linha fez com que a Nike transformasse a linha Air Jordan em uma submarca em 1997. Em 2019, a Forbes informou que a empresa faturou US$ 3,14 bilhões no ano fiscal encerrado em maio com essa linha, com a participação da Jordan em US$ 130 milhões.

O CEO da Nike, Mark Parker, anunciou em 2019 que a marca Jordan, em uma base equivalente no atacado, acabara de ganhar seu primeiro quarto de US$ 1 bilhão. Um detalhe notável sobre a linha é que todos os Air Jordans lançados desde 1986 têm o logotipo icônico do Michael Jordan saltando no ar com uma bola de basquete – sua jogada característica, replicada no filme Space Jam – em vez do próprio logo característico da Nike, o Swoosh.

Esses movimentos ousados da Nike, que assinou com o Michael Jordan – que queria assinar com a Adidas na época, permitindo a criação da linha que inclusive não usava a sua marca característica nos calçados geraram altíssimos retornos financeiros. Não é coincidência que outras marcas passaram a investir em atletas e, mais interessante ainda, atletas passaram a investir em suas marcas próprias – seja no mundo dos esportes ou até no mundo da moda.

Dentre os atletas mais endossados pelas marcas, cito Conor McGregor – lutador de MMA, Lionel Messi – futebol, Cristiano Ronaldo – futebol, Dak Prescott – futebol americano, Lebron James – basquete, Neymar – futebol, Roger Federer – tênis, Lewis Hamilton – piloto de F1, Tom Brady – futebol americano, Serena Willians – tênia e Tiger Woods – golfe.

Dos citados acima, Cristiano Ronaldo, Lebron James, Serena Willians e Tom Brady se aventuraram com marcas próprias para a prática de esportes e moda.

Lebron James, ao longo dos anos, ajudou a criar coleções de roupas esportivas e sua própria linha de tênis sob a marca Nike. No ano passado, James colaborou na criação de seu primeiro tênis de basquete feminino para a Nike, chamado HFR x LeBron 16.

Cristiano Ronaldo criou seu próprio império da moda sob sua consagrada marca CR7. A marca foi lançada em 2013 como uma coleção de roupas íntimas e cresceu rapidamente para incluir camisas masculinas, jeans, meias e até fragrâncias.

Tom Brady fundou, com seu parceiro e fisioterapeuta pessoal Alex Guerrero, a TB12 em 2013. Na época, as pessoas desdenharam, acreditando que apenas os fãs do ex time de Brady, o New England Patriots, situado na região da Nova Inglaterra, demonstrariam interesse. Nove anos, uma nova equipe e muitos títulos depois, a empresa está transformando a TB12 em uma marca procurada nos Estados Unidos e internacionalmente.

O CEO da TB12, John Burns, diz que um dos primeiros passos para expandir o alcance da empresa foi colocar um foco maior em suas oportunidades de licenciamento. A empresa fechou um acordo de licenciamento da marca com a empresa de gestão de talentos IMG, visando aumentar a presença da TB12 no varejo e no comércio eletrônico.

Não contente com a marca esportiva TB12, o quarterback, famoso no Brasil por ser marido da Gisele Bündchen, lançou a marca própria Brady, sendo “a primeira marca de vestuário técnico a aplicar duas décadas de inovação e engenharia de nível esportivo profissional para criar um sistema de roupas que funciona em todas as atividades”.1

Os dados acima demonstram algo que pode parecer surpreendente para alguns, mas vários desses atletas ganham mais dinheiro com seus endossos do que com seus salários. Isso é especialmente verdadeiro para os jogadores de golfe e tênis que não ganham salários fixos, recebendo dinheiro de premiações em seus esportes. Isso mostra o quão valiosa é a marca pessoal de um atleta. Seu esporte é apenas o veículo que os levou a se tornarem essas máquinas de fazer dinheiro.

O próximo encontro desta coluna seguirá neste assunto fascinante, trazendo outros exemplos e aprofundando o impacto do licenciamento de marca nessa equação. Nos vemos em breve.

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Adriano Palaoro Mesquita Carneiro

 

Referências

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1. HOME. Brady. 2022. Disponível em: https://bit.ly/36J0ZRO. Acesso em: 30 mar. 2022.

 

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