O Racismo não respeita posições hierárquicas

O Racismo não respeita posições hierárquicas

Racismo

Empreender no Brasil é uma tarefa desafiadora. Em um país emergente, marcado por burocracias complexas, altos custos tributários e instabilidades econômicas, transformar o sonho de ter um negócio próprio em realidade pode ser extremamente difícil. Dados do Sebrae indicam que a taxa de mortalidade das empresas brasileiras nos primeiros cinco anos é de aproximadamente 50%. A maioria dos novos negócios não sobrevive nem dois anos, e o tempo médio para o fechamento é de apenas três anos, evidenciando a complexidade do ambiente de negócios no país.

O conceito de empreendedorismo no Brasil também se diferencia daqueles observados nas economias mais desenvolvidas. Enquanto em países como os Estados Unidos o ato de empreender é frequentemente impulsionado por inovação e oportunidades de crescimento, aqui, grande parte dos novos negócios nasce da necessidade. Nas nações desenvolvidas, os empreendedores têm acesso facilitado ao crédito, políticas públicas de incentivo e um ambiente regulatório menos hostil. Em contrapartida, no Brasil, muitas pessoas se veem obrigadas a empreender por falta de oportunidades no mercado formal de trabalho, transformando o empreendedorismo em um caminho de sobrevivência.

Essa realidade é ainda mais dura para a população negra. Historicamente marginalizados no mercado de trabalho, pessoas negras enfrentam obstáculos adicionais para conquistar e manter suas posições profissionais. Muitos sobrevivem com progressos limitados, em empregos precarizados e com poucas perspectivas de ascensão.

Ao observarmos o contexto brasileiro, pessoas negras enfrentam obstáculos ainda maiores no acesso ao crédito, seja como pessoa física ou jurídica. Dados do mercado apontam que empreendedores negros têm três vezes mais chance de ter o crédito negado em comparação aos empreendedores brancos. Essa barreira limita suas oportunidades de crescimento e desenvolvimento, mesmo quando têm a intenção de inovar ou expandir seus negócios. O racismo estrutural, portanto, afeta não apenas o trabalhador negro no mercado de trabalho formal, mas também o empresário negro, que lida com o preconceito e a discriminação ao tentar acessar recursos financeiros e oportunidades de crescimento.

Além disso, as políticas públicas e o sistema bancário brasileiro perpetuam desigualdades raciais. A disparidade racial no acesso a crédito revela que o racismo não se manifesta apenas em interações cotidianas, mas também nas esferas institucionais e econômicas. A falta de crédito disponível para empreendedores negros reflete uma realidade em que a cor da pele ainda define as oportunidades e o sucesso no mundo dos negócios.

Ao observarmos os postos de alta gestão no Brasil, o quadro torna-se ainda mais alarmante. As posições de liderança, como diretorias e presidências de grandes empresas, são ocupadas majoritariamente por pessoas brancas. Essa concentração de poder nas mãos de uma parcela específica da população parece quase naturalizada pela sociedade. A falta de diversidade nas esferas de decisão perpetua uma realidade excludente e desigual, refletindo o racismo estrutural que atravessa o mercado de trabalho e o mundo empresarial.

O racismo, embora tenha características estruturais, não se limita aos postos mais baixos. Ele atravessa todas as esferas sociais e econômicas, atingindo tanto o trabalhador negro, que é explorado e subvalorizado, quanto o empresário negro, que, mesmo atingindo o sucesso, ainda enfrenta discriminação e preconceito. No Brasil, o caminho para o topo é mais árduo para a população negra. E mesmo quando uma pessoa negra alcança uma posição de destaque, o racismo persiste, seja por meio de microagressões ou da sutil desconfiança em torno de suas capacidades.

Diante desse panorama, fica claro que são necessárias mudanças profundas para que possamos, um dia, alcançar a igualdade no mercado de trabalho e no ambiente de negócios. É essencial que a estrutura das empresas, as políticas públicas e, sobretudo, a sociedade como um todo se comprometam com a superação das barreiras raciais. Somente assim será possível vislumbrar um mercado de trabalho justo e equitativo para todos.

 

Referências

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UOL Economia. “Empreendedor negro tem crédito negado 3 vezes mais do que branco no Brasil.” UOL, 22 de maio de 2017. Disponível em: site

Batista, Waleska. “Racismo na concessão de crédito.” Consultor Jurídico, 15 de fevereiro de 2023. Disponível em: site

Dos Santos, D., & Silva, L. “Racismo estrutural e desigualdade no crédito: um estudo sobre os desafios do acesso a capital por empreendedores negros no Brasil.” *Revista de Direito GV* (2023). Disponível em: site

 

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