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A construção da justificativa

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Após a construção do tema-problema e da hipótese, a justificativa costuma ser o próximo passo. Neste tópico, o pesquisador poderá, literalmente, identificar os motivos que impulsionam sua curiosidade e paixão pela matéria investigada. Porém, é importante lembrar que a sinalização de identidade aqui se refere ao tema e não ao escritor, principalmente se o seu projeto estiver sendo encaminhado para uma seleção de pós-graduação.1

Para ajudar a estruturá-la, o autor deve compreender que a motivação da pesquisa possui três fundamentos: (i) social; (ii) institucional; e (iii) pessoal. O cunho social parte de uma análise da sociedade global, do âmbito doméstico, de uma comunidade regional e/ou local ou, ainda, de um grupo de indivíduos, de forma que proporcione uma análise de melhoria. Logo, refere-se a acontecimentos relevantes em um determinado espaço. Inclusive, um dos métodos mais utilizados para iniciar a escrita da justificativa social é a indicação de um caso concreto e, após, o desenvolvimento do impacto causado na sociedade que leva o pesquisador a entendê-lo como notável para o tema. Podendo ser considerados os valores empíricos vivenciados pelo autor e sua comunidade.

Por sua vez, a justificativa de natureza institucional diz respeito à razão pela qual o seu tema se conecta com os estudos produzidos pela Universidade/Faculdade para a qual você está submetendo o projeto ou realizando a pesquisa. E, além disso, como a instituição poderá conceder suporte para o desenvolvimento do problema. É necessário se atentar também para que haja uma adequação quanto ao interesse da linha de pesquisa, área de estudo e investigações atuais do provável orientador. Para isso, algumas instituições de pesquisa oferecem ementas sobre as matérias abordadas na linha de pesquisa e/ou área de estudo. No quesito orientador, é recomendado verificar os currículos postados nos ambientes virtuais (p. eg. Plataforma Lattes, plataformas das instituições, redes sociais profissionais, bem como blogs e sites pessoais), acompanhar a linha de raciocínio dos professores da linha de pesquisa faz a diferença nesse quesito adequação institucional.

Por fim, a relevância pessoal da justificativa é o campo onde o investigador irá apresentar como, quando e por que surgiu o interesse pela temática. Nesse momento, há um toque individual com ou sem identificação, a depender da circunstância. Nele, é possível citar, por exemplo, que o interesse surgiu durante uma disciplina, durante um aprofundamento na percepção crítica sobre o assunto, numa notícia de jornal, num debate entre amigos/familiares ou quaisquer outros motivos. Mas é preciso se atentar a identificação neste processo. Se o edital da universidade propõe o projeto de pesquisa sem quaisquer resquícios de autoria, é passível de eliminação caso o autor compartilhe dados pessoais em sua justificativa. Neste sentido ensinam os professores Denise Fincato e Sérgio Gillet que as justificativas, resgatam o plano de estudos/projeto para a pesquisa, quais sejam a importância/necessidade de seu estudo (nessa ordem: para a sociedade, para o mundo jurídico-acadêmico e para o pesquisador), metodologia empregada na pesquisa, entre outros itens. Por isso não deve ter apenas meia página, tampouco quinze. Um consenso entre autores indica que não se pode, em hipótese alguma, ultrapassar 10% das páginas do trabalho com a introdução, recomendando-se que se fique ao redor de 3-5 páginas. Não fazer citações e não utilizar notas de rodapé na introdução.2

Com isso, a justificativa é um item que tem relação direta com a relevância do tema. Em regra, ela deve conter razões de caráter social, institucional e pessoal. A ciência é um processo de melhoria e evolução social, por meio dela que podemos identificar as carências e equilibrar as vulnerabilidades sociais. Assim, o trabalho do pesquisador sempre deverá contribuir com a academia, como um processo científico e embasado em dados e fatos, sendo a justificativa um dos processos mais importantes para a aceitação do projeto pelas instituições.

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Márcia Carolina Santos Trivellato

Olívia Maria Silva Felício

 

Referências

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1. Em regra, os Programas de Pós-Graduação solicitam que o candidato não se identifique ao longo do projeto, sob pena de desclassificação.

2. FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca [recurso eletrônico] / Denise Pires Fincato; Sérgio Augusto da Costa Gillet — Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 75-76.

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