A retomada da presidência de Donald Trump tem trazido uma série de desafios para a produção acadêmica global, com impactos particularmente severos para o Brasil. Entre as medidas mais preocupantes estão as políticas que atacam diretamente a diversidade, equidade e inclusão nas universidades, configurando uma estratégia que ameaça não apenas a liberdade acadêmica, mas também o avanço social em temas cruciais como raça, gênero e direitos LGBTQIAP+.
Nos últimos meses, o governo Trump exigiu a extinção imediata de programas de diversidade e auditorias anuais sobre a pluralidade de pontos de vista nas instituições de ensino superior. Universidades que resistem, como Harvard, enfrentam bloqueios de verbas federais e perda de isenções fiscais, numa tentativa clara de controlar o que pode ser pesquisado e debatido. Essa ofensiva não se restringe aos EUA: pesquisadores brasileiros e estudantes internacionais têm relatado medo e insegurança, já que a continuidade de projetos que abordam diversidade, justiça social e direitos humanos está sendo seriamente comprometida.
No Brasil, o impacto é duplo. Por um lado, a redução do financiamento e o bloqueio de programas de inclusão dificultam a cooperação acadêmica internacional e a vinda de estudantes estrangeiros, essenciais para a diversidade de perspectivas e o intercâmbio científico. Por outro, a autocensura imposta por esse ambiente hostil à diversidade limita a produção científica em áreas que abordam desigualdades raciais, de gênero e sociais, temas fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes.
Essa conjuntura tem consequências diretas na vida de jovens LGBTQIAP+ e pessoas negras no Brasil. A retirada de apoio a políticas inclusivas e o enfraquecimento das discussões acadêmicas ampliam a invisibilidade e a marginalização desses grupos, aprofundando desigualdades históricas. A ausência de proteção e o aumento da intolerância dificultam o acesso dessas populações a ambientes educacionais e profissionais seguros, reforçando a exclusão social e econômica. Em última análise, a estratégia de Trump contribui para ampliar a desigualdade de classe e raça, ao minar os esforços para combater essas disparidades em todas as esferas sociais.
Além disso, a influência da retórica e das políticas de Trump no cenário político brasileiro, especialmente entre setores da direita, pode agravar esse quadro, dificultando avanços na agenda de direitos humanos e diversidade no país. O risco é que o combate à diversidade acadêmica se traduza em retrocessos sociais profundos, comprometendo o futuro de gerações inteiras.
Diante desse cenário, é urgente que a comunidade acadêmica e a sociedade civil brasileiras reforcem a defesa da autonomia universitária e da diversidade como pilares essenciais para o progresso social. A produção científica que inclui e valoriza todas as vozes é indispensável para enfrentar as desigualdades e construir uma sociedade mais justa e plural.
Este momento exige atenção redobrada para os efeitos globais das políticas americanas e uma resposta firme para proteger a diversidade e a liberdade acadêmica, que são fundamentais para o desenvolvimento do Brasil e para a promoção dos direitos humanos em toda a América Latina.