A Importância das Políticas Públicas de Educação Digital no Brasil: Combate à Modulação Comportamental e ao Colonialismo Digital

A Importância das Políticas Públicas de Educação Digital no Brasil: Combate à Modulação Comportamental e ao Colonialismo Digital

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Nos últimos anos, percebemos e utilizados as plataformas digitais (mídia, redes sociais, consumo), que transformaram a maneira como interagimos, consumimos e nos informamos, ou seja, vivenciamos a plataformização da vida cotidiana.

No Brasil, a penetração de redes sociais, marketplaces e serviços de streaming é massiva, com mais de 150 milhões de usuários de internet em 2023, segundo o IBGE. Contudo, o uso intensivo dessas plataformas, muitas vezes sem uma compreensão crítica, expõe a população a riscos como modulação comportamental e colonialismo digital.

Nesse contexto, políticas públicas de educação digital emergem como ferramentas essenciais para capacitar os brasileiros, promovendo soberania digital e protegendo direitos fundamentais.

A modulação comportamental, impulsionada por algoritmos de inteligência artificial, é uma prática comum em plataformas digitais. Por meio da coleta massiva de dados pessoais, essas plataformas criam perfis detalhados de usuários, manipulando escolhas e comportamentos para maximizar engajamento e consumo.

Muitos jovens brasileiros já alteraram decisões de compra influenciados por recomendações algorítmicas. Essa manipulação, muitas vezes opaca, compromete a autonomia individual e reforça desigualdades, já que grupos vulneráveis são alvos preferenciais de conteúdos direcionados.

Além disso, o colonialismo digital representa uma ameaça à identidade cultural e à soberania nacional. Plataformas globais, majoritariamente controladas por empresas estrangeiras, impõem modelos culturais, linguísticos e econômicos que nem sempre refletem os valores brasileiros.

A predominância de conteúdos em inglês, a priorização de produtos importados em marketplaces e a exportação de dados pessoais para servidores no exterior são exemplos de como o Brasil se torna um “consumidor passivo” no ecossistema digital global.

Políticas públicas de educação digital são cruciais para enfrentar esses desafios. Primeiro, elas podem capacitar a população a reconhecer e resistir à modulação comportamental. Programas escolares que ensinem alfabetização digital, incluindo o funcionamento de algoritmos e a proteção de dados, permitiriam que cidadãos tomassem decisões mais conscientes. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), embora um avanço, não é suficiente sem uma sociedade informada que exija sua aplicação. Iniciativas como o programa “Internet Segura” do governo federal, que promove conscientização sobre cibersegurança, poderiam ser expandidas para abordar manipulação algorítmica.

Segundo, a educação digital pode mitigar o colonialismo digital ao fomentar o desenvolvimento de plataformas locais e a valorização da cultura brasileira. Incentivar a criação de tecnologias nacionais, como aplicativos de comunicação ou marketplaces regionais, reduziria a dependência de gigantes estrangeiras. Além disso, programas que promovam a produção de conteúdo digital em português, com foco em narrativas locais, fortaleceriam a identidade cultural.

Por fim, políticas de educação digital devem ser inclusivas, alcançando populações marginalizadas, como comunidades rurais e periferias urbanas, que muitas vezes têm acesso limitado à internet e menor familiaridade com ferramentas digitais. Parcerias entre governo, escolas e ONGs podem levar oficinas de capacitação a essas regiões, reduzindo a exclusão digital e os riscos associados à desinformação e manipulação.

A ausência de políticas robustas de educação digital perpetua a vulnerabilidade do Brasil frente às plataformas digitais. Sem uma cidadania digitalmente alfabetizada, continuaremos reféns de algoritmos que moldam comportamentos e de um mercado que prioriza interesses externos. É hora de o Brasil investir em educação digital como pilar estratégico, garantindo que a tecnologia sirva ao bem-estar coletivo e à soberania nacional, em vez de aprofundar desigualdades e dependências. A construção de um futuro digital justo começa com a capacitação de nossa população.

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