Nos últimos anos, intensificou-se o debate sobre web 3.0 e suas tecnologias, como blockchain, criptomoedas, finanças descentralizadas ou “DeFi”, organizações autônomas descentralizadas ou “DAOs”, contratos inteligentes ou “smartcontracts”, metaverso, tokens não fungíveis, também conhecidos como NFTs.
Essas tecnologias são resultado da evolução da web, que, transcorreu a versão 1.0 e 2.0, até chegar em seu momento atual. A web 1.0, cuja data de popularização remete aos anos 90, pode ser caracterizada como um espaço de leitura, estático, em que o usuário apenas absorvia informação sem interagir com o conteúdo. Poucos tinham acesso a essa tecnologia.
Já a web 2.0 representa o espaço da escrita e das redes sociais. Nos anos 2000, diversas redes sociais foram criadas, sendo que algumas perduram até os dias atuais, como YouTube, Spotify, Instagram e Facebook. Nesse espaço, o usuário passou a interagir e a criar conteúdo, dar sua opinião sobre produtos e serviços, participar de comunidades, tornando-se mais ativo. No que tange às relações de consumo, surge o prosumidor.
A web 3.0, por sua vez, tem como um dos seus pilares a descentralização, o que é possível graças à tecnologia do blockchain. Redes de blockchain são cadeias de blocos em que as transações ficam registradas de forma imutável, em um sistema peer-to-peer de algoritmos criptografados. São, portanto, blocos em cadeia que compartilham informações e utilizam criptografia assimétrica para aumentar a sua confiabilidade. Sua criação está vinculada ao Satoshi Nakamoto, cuja existência não é certa.
Sua criação está ligada ao nascimento do Bitcoin, uma rede de blockchain referente à primeira moeda descentralizada, sem lastro, em 2008. Sua valorização ocorreu ao longo dos anos, chegando a atingir quase setenta mil dólares em 2021. Mas as redes de blockchain são várias. Destaca-se a Etherium, cuja moeda é o Ether, contando com uma tecnologia mais avançada permitindo transações por smartcontracts. Vale ressaltar que as redes blockchain podem ser tanto públicas quanto privadas.
Os NFTs, diferentemente das criptomoedas que são tokens, mas fungíveis, representam um ativo digital que pode, ou não, ter prolongamentos no universo físico. Esse ativo é registrado em uma rede blockchain, concedendo-lhe imutabilidade, rastreabilidade, segurança e unicidade. Esses tokens únicos podem ser uma obra de arte, uma fotografia, um texto, uma experiência, um ingresso, uma skin para determinado avatar, entre diversos outros itens. Ao serem comprados, por meio de transações com criptomoedas, os tokens ficarão em uma wallet, cujo portador não pode ser identificado a não ser que ele mesmo assim decida.
A transação para aquisição ou transferência de um NFT é feita por um smartcontract, que são, basicamente, programações autoexecutáveis cujas transações ficam registradas em uma rede de blockchain. Não há, portanto, intermediários: cumpridas as condições da programação, o resultado ocorre automaticamente. Permite-se, assim, uma maior agilidade nas transações, que serão feitas de forma transparente, seguras e descentralizadas.
Outra tecnologia importante quando se fala em web 3.0 é o desenvolvimento das plataformas de metaverso. Apesar do seu conceito não ser novo e estar vinculado a jogos online, a fundação em uma rede de blockchain permite sua descentralização. Trata-se de um espaço tridimensional imersivo e tecnológico, focado na interação social. A própria terminologia “metaverso” sugere uma transcendência (meta) entre um mundo virtual, sintético e o físico (universo).
Portanto, além de jogos, podem ser criados espaços de convívio social, ambientes de estudo e de trabalho com potencial imersivo maior. Ou seja, mundos virtuais que existem no cyberespaço e permitem que os usuários interajam por meio de seus avatares, sob a premissa de simular a realidade. É uma “quase” sucessão da internet móvel, pois a internet não deixa de existir, mas se transforma, havendo uma convergência de tecnologias. Atualmente, o maior desafio dessas plataformas é a interoperabilidade.
As plataformas de metaverso vêm chamando a atenção das empresas, que passaram a explorar espaços para divulgar seus produtos e serviços, inclusive eventuais coleções de NFTs por elas criadas. Ademais, as empresas conseguem falar a linguagem da geração mais nova, conhecida como geração Z, vez que a maioria dos usuários atuais do metaverso são menores de 16 anos.
Assim, com a web 3.0, nasce o conceito de “phydigital”, pois se tem a junção do físico com o digital, em uma experiência imersiva. Isso porque acessórios vêm sendo desenvolvidos pelas empresas, como óculos de realidade aumentada, roupas que permitem sentir os movimentos e toques realizados no metaverso, assim como luvas, entre outras. No entanto, os operadores do Direito vêm se debatendo com os desafios jurídicos existentes, que veremos no próximo mês.
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