No dia 15 de junho de 2022 o Reuters Institute for the Study of Journalism, da renomada Universidade de Oxford, publicou seu relatório anual acerca do consumo de notícias ao redor do mundo.1
A pesquisa realizada se valeu de dados de aproximadamente cem mil pessoas de quase 50 países e, desde logo, se estabelece como a pesquisa mais abrangente sobre o tema já realizada até então.
O levantamento realizado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism apresenta inúmeros dados relevantes globalmente, que indicam um caminho singular para o futuro dos meios jornalísticos e informativos.
No que se refere especificamente ao Brasil, a pesquisa coletou mais dados do que as edições anteriores do estudo, ou outros estudos do gênero, apontando uma tendência de afastamento do público dos veículos tradicionais de comunicação e a adoção de canais de notícia descentralizados e afastados dos grandes conglomerados de informação tradicionais no país.
No mesmo sentido, constata-se, globalmente, cada vez em maior grau, o surgimento de canais de comunicação, páginas na internet, portais de notícia e veículos de comunicação em geral, que adotam uma postura de afastamento dos modelos tradicionais de comunicação e promovem o compartilhamento da informação de novas formas.
O fenômeno supramencionado pode ser analisado sob duas óticas distintas, primeiramente por um aspecto negativo de potencialização de bolhas digitais,2 maximização da pós verdade3 e instigação de extremismos políticos.4 Lado outro, pode-se observar a maior busca por conteúdos informativos independentes, maior busca por temas de política pela sociedade e, até mesmo, a desconstrução do monopólio da informação por grande conglomerados com fins meramente comerciais.5
O Estudo realizado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism revela que essa tendência de afastamento dos veículos tradicionais de comunicação não se limita ao Brasil, de modo que em todo o mundo, em média, 38% das pessoas entrevistadas revelaram não acompanhar mais esse tipo de mídia para se informar sobre certos assuntos.6
Em relação ao Brasil, país com maior percentual dentro do estudo, 54% dos entrevistados disseram que evitam as notícias propaladas pelos veículos da mídia tradicional, sendo esse número composto tanto por indivíduos alinhados ao espectro político da esquerda e da direita.7
Globalmente, o estudo constatou uma desconfiança generalizada em relação aos veículos de imprensa tradicionais, de modo que o público, cada vez mais, busca o afastamento desse modelo informativo e busca novas alternativas.
No Brasil é notório um afastamento, cada vez maior, da mídia tradicional da realidade brasileira. De modo que, os veículos de informação, em grande grau, transformaram-se em veículos de opinião.
Se outrora as opiniões dos jornalistas, do grupo editorial, ou de determinado patrocinante representava uma pequena parcela da mensagem emitida por esses veículos de mídia, hoje, constata-se uma inversão desse cenário, de modo que, muitas vezes, uma reportagem se limita a apresentar uma opinião política travestida de informação.
No Brasil tanto as pessoas alinhadas ao espectro político da esquerda ou da direito possuem a ideia de que o jornalismo, em sua estrutura clássica, há muito, virou suas costas para a sociedade e buscou noticiar somente o que era conveniente ou oportuno para as estruturas que sustentavam esses grandes conglomerados.8 Nesse contexto fatos passaram a ser ignorados em determinadas hipóteses, informações foram modeladas para exprimir um único ponto de vista sobre um tema e a informação se transformou em desinformação.
Diante dessa impressão meios descentralizados de emissão de informações surgiram por intermédio da internet para tratar dos mais diversos assuntos, como política, economia, esportes, jogos, cultura e, até mesmo, entretenimento. Se antes a possibilidade de divulgar esse tipo de informação se restringia a poucos agentes ligados a grandes conglomerados, com a descentralização da informação as pessoas passaram a ter acesso a inúmeras fontes que tratam de um mesmo assunto e podem auxiliar na construção de sua própria opinião.
Nesse complexo cenário de descrença nos veículos de mídia tradicionais, o compromisso jornalístico com a verdade, com a honestidade e com a transparência deve ser evidenciado, de modo a reconstruir as pontes entre esses veículos e o público, não por fins meramente econômicos, mas, sobretudo, com o objetivo final de informar e de transformar a sociedade por meio da verdade.
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Clayton Douglas Pereira Guimarães
Glayder Daywerth Pereira Guimarães
Referências
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1. REUTERS. Digital News Report 2022. 2022. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2022. Acesso em: 21 jul. 2022.
2. PELLIZZARI, Bruno Henrique Miniuchi; BARRETO JÚNIOR, Irineu Francisco. Revista de Direito, Governança e Novas Tecnologias, v. 5, n. 2, p. 57-73. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/288182163.pdf. Acesso em: 21 jul. 2022.
3. SEIXAS, RODRIGO. A retórica da pós-verdade: o problema das convicções. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, v. 18, n. 1, 29 abr. 2019. Disponível em: http://periodicos.uesc.br/index.php/eidea/article/view/2197. Acesso em: 21 jul. 2022.
4. HANSEN, Jaqueline Resmini; FERREIRA, Maria Alice Silveira. Da polarização à busca pelo equilíbrio: as relações entre internet e participação política. Revista Eletrônica de Ciência Política, v. 9, n. 1, 2018. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/politica/article/view/56124. Acesso em: 21 jul. 2022.
5. GUIMARÃES, Glayder Daywerth Pereira; SILVA, Michael César. Fake news à luz da responsabilidade civil digital: o surgimento de um novo dano social. Revista Jurídica Da FA7, v. 16, n. 2, p. 99-114, 12 dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.24067/rjfa7;16.2:940. Disponível em: https://periodicos.uni7.edu.br/index.php/revistajuridica/article/view/940. Acesso em: 21 jul. 2022.
6. REUTERS. Digital News Report 2022. 2022. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2022. Acesso em: 21 jul. 2022.
7. REUTERS. Digital News Report 2022. 2022. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2022. Acesso em: 21 jul. 2022.
8. DELABRE, Raúl Trejo. Muitos meios em poucas mãos: concentração televisiva e democracia na América Latina. Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 33, n. 1, , 2010, pp. 17-51. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/698/69830993002.pdf. Acesso em: 21 jul. 2022.